Interrogado sobre suas afinidades literárias, Severo Sarduy (1937-1993) respondeu: “Eu sou um monge dessa religião chamada Lezama”.
Eu diria que sou, sem dúvida alguma, um coroinha indomado dessa seita laica chamada Sarduy.
Um dia desses, madrugada adentro, improvisei uma tradução que considero “correta” (ou “careta”?) de um de seus belos sonetos. Sem me ater à metrificação original, mas me pautando de perto pela imagem delineada no poema, cheguei a este resultado, nada definitivo, é claro, como verão a seguir:
LÚBRICO E LUZENTE, O ÊMBOLO
Lúbrico e luzente, o êmbolo
invade jubiloso a ranhura
e derrama sua branca queimadura
mais abrasante quanto mais lento.
Um cúmplice fugaz e disfarçado
saliva e experimenta a abertura
dilatada no volume e que sutura
sua própria lava. E no ovalado
mercúrio tangencial sobre o tapete
(a torre, lambuzada penetrando,
jorrando mel, saindo, entrando)
decifra o ideograma da sombra, cede:
o pensamento é ilusão: abrandando
vem aos poucos o inominável ente.
EL ÉMBOLO BRILLANTE Y ENGRASADO...
El émbolo brillante y engrasado
embiste jubiloso la ranura
y derrama su blanca quemadura
más abrasante cuanto más pausado.
Un testigo fugaz y disfrazado
ensaliva y escruta la abertura
que el volumen dilata y que sutura
su propia lava. Y en el ovalado
mercurio tangencial sobre la alfombra
(la torre, embadurnada penetrando,
chorreando de su miel, saliendo, entrando)
descifra el ideograma de la sombra:
el pensamiento es ilusión: templando
viene despacio la que no se nombra.
Severo Sarduy
Tradução de Jean Cristtus Portela
Eu diria que sou, sem dúvida alguma, um coroinha indomado dessa seita laica chamada Sarduy.
Um dia desses, madrugada adentro, improvisei uma tradução que considero “correta” (ou “careta”?) de um de seus belos sonetos. Sem me ater à metrificação original, mas me pautando de perto pela imagem delineada no poema, cheguei a este resultado, nada definitivo, é claro, como verão a seguir:
LÚBRICO E LUZENTE, O ÊMBOLO
Lúbrico e luzente, o êmbolo
invade jubiloso a ranhura
e derrama sua branca queimadura
mais abrasante quanto mais lento.
Um cúmplice fugaz e disfarçado
saliva e experimenta a abertura
dilatada no volume e que sutura
sua própria lava. E no ovalado
mercúrio tangencial sobre o tapete
(a torre, lambuzada penetrando,
jorrando mel, saindo, entrando)
decifra o ideograma da sombra, cede:
o pensamento é ilusão: abrandando
vem aos poucos o inominável ente.
EL ÉMBOLO BRILLANTE Y ENGRASADO...
El émbolo brillante y engrasado
embiste jubiloso la ranura
y derrama su blanca quemadura
más abrasante cuanto más pausado.
Un testigo fugaz y disfrazado
ensaliva y escruta la abertura
que el volumen dilata y que sutura
su propia lava. Y en el ovalado
mercurio tangencial sobre la alfombra
(la torre, embadurnada penetrando,
chorreando de su miel, saliendo, entrando)
descifra el ideograma de la sombra:
el pensamiento es ilusión: templando
viene despacio la que no se nombra.
Severo Sarduy
Tradução de Jean Cristtus Portela