15 de junho de 2017

E OUTRO

DEFINA “SER SEU”


Se pudesse me ver como me sinto,
além de toda resistência modal,
não atribuiria à egotrip o que bradei
por umas duas vezes, uma delas por escrito,
sobre “ser meu”.

“Ser meu” não é um estado honorífico da matéria,
nem forja em metal nem traço de arroubo mítico.
“Ser meu” é um caule de capim coroado de penugens róseas
e colhido num gesto negligente entre sol e sombra – mais sol.

“Ser meu” é óbvio correlato de “ser seu”, sem sono, sem obrigações,
sem data de nascimento, prazo de validade ou carência.

“Ser meu” é o seu vulto repousado sob pouca luz
como modelo a ser capturado,
à minha espera, naquele instante, onde eu o procuro.
“Ser meu” é o olhar pacificado, sem sanção além do afeto duramente concedido,
e do franzir dos olhos e do morder dos lábios no momento
em que você e todos nós somos solitários.


Jean Cristtus Portela


Junho de 2017.

24 de abril de 2017

Um avulso de volta

DESFAÇA, DESPRENDA, DESQUEIRA

para M. B.


Desfaça, desprenda, desqueira,
mesmo que isso não o ponha a salvo
dos enganos esmerados
sem linha de alvo ou de obstáculo.

Estire sua ideia até nublar o ângulo –
tão mais agudo, tão mais obtuso –
na pulsante aspereza dos disfarces
que não são, por fim, armas de logro,
antes hesitações de pêndulo.

Não são lesa-você nem lesa-gentes,
são estojos e forros
do mobiliário dos náufragos,
dos desconfiados,
dos contidos por força desconhecida
que experimentam um excedente de expectativa.


Jean Cristtus Portela

Abril de 2017