19 de maio de 2007

Issa revisitado

Organizando umas pastas antigas no micro, reencontrei Kobayashi Issa (1763-1827) – o que me encheu de ternura e saudade. Relendo e cotejando as traduções que fiz à época, é claro que me arrependi de certas coisas (como trocar “mochi” por "fumo", por exemplo), mas reconheci no conjunto um certo frescor, prova de que Issa sobrevive a toda sorte de adversidades.



esse nosso mundo –
do capim dali,
sai nosso fumo.

ora ga yo ya/ sokora no kusa mo/ mochi ni naru.



lua cheia –
aponta no oeste
o templo de Zenko.

meigetsu ya/ nishi ni mukaeba/ zenkōji.



o velho cão –
imagina ouvir
a moda das minhocas.

furu inu ya/ mimizu no uta ni/ kanji-gao.



mosca do chapéu,
hoje você já é
gente de Edo!

kasa no hae/ mo kyō kara wa/ edo mono zo.



pérolas de orvalho
em cada uma
vejo minha aldeia.

tsuyu no tama/ hitotsu hitotsu ni/ furusato ari.



em minha casa
os vagalumes se dão
com os ratos.

waga yado wa/ nezumi to naka no/ yoi hotaru.




cantam os insetos
e saltam sós
como nós.

mushi naku ya/ tobu ya tenden/ ware-ware ni.



montanhas da aldeia –
a lua cheia
até na sopa.

yamazato wa/ shiru no naka made/ meigetsu zo.



chuva de primavera –
seguindo a criança
o gato dança.

harusame ya/ neko ni odori wo/ oshieru ko.



lua cheia –
hoje até você
ocupada?

meigetsu ya/ kyō wa anata mo/ isogashiki.



uma lagarta caída
no inferno
das formigas.

ōkemushi/ ari no jigoku ni/ ochi ni keri.



ventos de outono
inquietam
o coração de Issa.

aki no kaze/ issa kokoro ni/ omou yō.



Tradução de Jean Cristtus Portela
Revisão de Chikako Tange, Sandra Shirahata e Tadashi Nakao



Fonte: PORTELA, Jean Cristtus. Issíada: Obra & desdobra de Kobayashi Issa. 2001. 60 f. Monografia (Trabalho de conclusão de curso) – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Universidade Estadual Paulista, Bauru.

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