8 de maio de 2007

Marianne Moore

Há alguns anos, solitária ou conjuntamente, E. e eu temos traduzido alguns poemas de Marianne Moore & Cia (Williams, Pound etc). Semana passada, escandalizado com a pobreza de uma tradução de Moore publicada na única coletânea de poemas seus disponível no Brasil, felizmente já esgotada, decidi fazer a tradução abaixo que, se não é muito sonora (o que E. chama de quase-prosa, sonoridade "low profile") ao menos é legível (no limite, "didática").

O leitor atento, que resolver recorrer ao texto original apresentado abaixo, perceberá que evitei manter as rimas em "al" que Marianne Moore semeou por todo o poema. Procurar restituir esse recurso em português com propriedade consiste em um desafio inglório, que não achei prudente perseguir.

(Infelizmente, por conta das limitações técnicas do Blogger, não pude restituir a disposição exata do poema, que tem suas duas estrofes conclusivas alinhadas um pouco mais à direita.)



PARA UMA GIRAFA

Se é inaceitável, na verdade, mortífero
ser pessoal e indesejável

ser literal — ou até mesmo nocivo
se o olho não é inocente — quer dizer que

alguém pode viver só com as folhinhas do topo
acessíveis só ao bicho mais alto? —

do qual a girafa é o exemplo mais vivo —
o animal infreqüentável.

Quando tem assolado seu espírito,
uma criatura pode ser intragável

isso seria irresistível;
para ser precisa, excepcional

já que menos freqüentável
que certo animal emocionalmente inapto.

Por fim,
o consolo da metafísica
pode ser profundo. A existência, em Homero,

é falha; a transcendência, condicional;
“o caminho do pecado à redenção, eterno.”


Marianne Moore

(De “Tell me, tell me”, 1966)

Tradução de Jean Cristtus Portela



TO A GIRAFFE

If it is unpermissible, in fact fatal
to be personal and desirable

to be literal — detrimental as well
if the eye is not innocent — does it mean that

one can live only on top leaves that are small
reachable only by a beast that is tall? —

of which the giraffe is the best example —
the unconversational animal.

When plagued by the psychological,
a creature can be unbearable

that could have been irresistible;
or to be exact, exceptional

since less conversational
than some emotionally-tied-in-knots animal.

After all
consolations of the metaphysical
can be profound. In Homer, existence

is flawed; transcendence, conditional;
“the journey from sin to redemption, perpetual.”

Um comentário:

Anônimo disse...

Vai me perdoar o jabazinho, mas sugiro a seguinte leitura para quem quiser saber mais sobre Miss Marianne, essa autora tão pouco freqüentada.

http://blogdiatribe.blogspot.com/2005/12/o-divino-e-o-mundano-em-marianne-moore.html