11 de maio de 2007

Contra o fetiche da poesia

Contra o fetiche da poesia, Pattje-Russerl, poeta apátrida exilado nos EUA, contemporâneo de Joseph Brodsky, lança afiadas farpas*. Eis um trecho de uma entrevista sua, traduzida no calor da polêmica:

"Embora tenha suas raízes na palavra cantada, 'declamada', a poesia é uma forma jovem, e isso em vários sentidos. Atualmente, a forma poética é para mim uma forma arrogante demais. A poesia, ou se você preferir, o poema, não tem mais na minha obra a mesma importância. Com o passar do tempo, cheguei à conclusão de que eu deveria ter vinte anos menos ou, no mínimo, ser mais otimista ou pretensioso para continuar acreditando que uma massa sonora qualquer, que poucas linhas distribuídas de uma forma improvável, devem, a priori, ser reverentemente chamadas ‘poesia’, ‘poema’. O drama essencial da linguagem ou, se você preferir, o conteúdo último da nossa maneira de ser no mundo, o significado que mais tememos ou prezamos, não foi e não está fixado por gênero literário algum”.

Antoïc Pattje-Russerl (1925-1986)
"A interview about the foundations of poetry" (1983)
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*Esse pequeno fragmento, quando publicado por mim em Tal a Fuga I, foi tido por E. como excessivamente pessimista e "absolutamente escandaloso" .

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