20 de dezembro de 2007

Un point de vue brésilien

Na contagem regressiva para o Natal, recebo um presente fino, de apelo irresistível: a tradução para o francês de extratos de uma entrevista que dei na época do lançamento da tradução de Semiótica do Discurso, de J. Fontanille.

Meu "cadeau de Noël" pode ser lido no blog francês de tradução Tribune Libre, no post de hoje, Un point de vue brésilien.

Merci, Lusina!

5 de dezembro de 2007

O lapso incontornável

Alguém que tenha ouvido Dalva de Oliveira Canta Boleros (Odeon, 1959) e O Encantamento do Bolero (Odeon, 1962) – de preferência em bolachões ligeiramente riscados, lidos por agulhas empoeiradas mas obedientes – sabe onde encontrar uma escola suficiente de sofrimento. Que dicção, que ardor!

Nos primeiros versos de "Lembra", durante muito tempo, ouvi erroneamente "Junto ao meu coração", o que me deixava sempre maravilhado. Eu imaginava que o coração de Dalva estava já na lama antes que ela mesma tivesse sido atirada. Era a decadência exterior, que encontrava a confessa degradação interior.

(Isso me lembra a história de L., que, por anos, na célebre canção de Maysa, ouvia "Ousa...", no lugar de "Ouça...".)

E se o deslumbramento do sujeito com o mundo, com a arte, não passasse afinal de um lapso incontornável encoberto pelo esquecimento?



LEMBRA
(Tito Climent)

Lembra, que tu me abandonaste,
Na lama me atiraste,
Junto o meu coração,
Lembra, o muito que implorava,
No tempo em que eu te amava,
E hoje pedes perdão.

Volta, vais sofrer teu castigo,
Não procures comigo,
O que já se acabou,
Chora, teu fracasso inconsciente,
Porque o amor dessa gente,
Dura como uma flor,
Lembra, que viverás sofrendo,
Que viverás morrendo,
Ao lembrar tua traição.

Chora, teu fracasso inconsciente,
Porque o amor dessa gente,
Dura como uma flor,
Lembra, que viverás sofrendo,
Que viverás morrendo,
Ao lembrar tua traição....

(Dalva de Oliveira Canta Boleros, Odeon, 1959)