29 de abril de 2008
Ainda Michaux
DESCANSO NA INFELICIDADE
Infelicidade, minha grande lavradora,
Infelicidade, sente-se, descanse,
Descansemos um pouco, eu e você,
Descanse,
Você me encontra, me sonda, me demonstra.
Sou sua ruína.
Meu grande palco, meu porto, meu fogo.
Minha adega de ouro,
Meu futuro, minha verdadeira mãe, meu horizonte.
No seu calor, ao seu redor, em meu horror.
Eu me abandono.
REPOS DANS LE MALHEUR
Le Malheur, mon grand laboreur,
Le Malheur, assois-toi, repose-toi,
Reposons-nous un peu toi et moi,
Repose,
Tu me trouves, tu m’éprouves, tu me le prouves.
Je suis ta ruine.
Mon grand théâtre, mon havre, mon âtre,
Ma cave d'or,
Mon avenir, ma vraie mère, mon horizon.
Dans ta lumière, dans ton ampleur, dans mon horreur,
Je m'abandonne.
Henri Michaux, poema extraído de Plume (1963)
Tradução de Jean Cristtus Portela
23 de abril de 2008
Fronteira
Mais um pouco, mais um pouquinho de nada, este Michaux seria um Kaváfis. Segue uma tradução bem folgada do poema:
MINHA VIDA
Segue adiante.
E eu ainda hesito em dar um passo.
Você leva para longe a batalha.
Deserta-me assim.
Nunca a segui.
Suas ofertas não são claras.
Tão pouco quero e você nunca traz.
Por conta dessa falta, almejo tanto.
Tantas coisas, quase o infinito...
Por conta desse pouco que falta, que você nunca traz.
MA VIE
Tu t'en vas sans moi, ma vie.
Tu roules.
Et moi j'attends encore de faire un pas.
Tu portes ailleurs la bataille.
Tu me désertes ainsi.
Je ne t'ai jamais suivie.
Je ne vois pas clair dans tes offres.
Le petit peu que je veux, jamais tu ne l'apportes.
A cause de ce manque, j'aspire à tant.
A tant de choses, à presque l'infini...
A cause de ce peu qui manque, que jamais tu n'apportes.
Henri Michaux (1899-1984), poema extraído de La nuit remue (1935)