"Um mascate", escrito no começo de 2003, é um dos meus textos "preferidos" (fico pensando se um artíficie tem mesmo direito a um tal rasgo de vontade). Em circunstâncias que não valem o esforço de explicitá-las, vim a traduzi-lo para o francês há alguns meses.
Citar-se nos próprios textos, traduzir os próprios textos... A torrente morna e acolhedora do narcisismo! Negá-la ou evitá-la seria incorrer na cilada escandalosa da falsa modéstia. La honte!
UM MASCATE
Um talento mínimo
o ofício exigia
("the age demanded",
segundo o véio ezra)
Talento de piloto automático
laranja epistemólogo, útil otário.
À ciência imolar cem vidas
um boi por bibliografia.
Cada hecatombe, uma teoria tímida
consagrada à histeria da pesquisa.
Em trânsito incerto, chega-lhe a preguiça:
sacoleiro bibliopata, mascate da ciência.
2003
COMMIS VOYAGEUR DE LA SCIENCE
Un talent mineur
Son métier demandait
(« The age demanded »,
D'après Ezra, le vieux)
Talent d'un pilot automatique
Pieux épistémologue, crétin utile
A la science il immolait cent âmes
Un boeuf par bibliographie
A chaque hécatombe, une théorie vierge
Consacrée à l'hystérie de la recherche
Juste deux pages, le voilà proie
De la paresse, ce camelot bibliopathe
Commis voyageur de la Science.
2007
Um comentário:
Jean, sou fã de Kavafis. Bela idéia a sua. Mas me diga, a tradução em português foi feita a partir do grego ou do francês?
Um abraço.
Fernando Brandão dos Santos
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