29 de março de 2007

Confucianas

I

Dizem que ao comentar a blasfêmia "Não passais de punheteiros!", proferida pelo impudico Kâo, Mêncio, discípulo de Confúcio, disse: "Por que uma tal acusação recai sobre os ombros de um homem? Porque pratica pouco algo de que gosta muito? Porque pratica muito algo de que gosta pouco? Porque não pratica algo? Porque só pratica esse algo? O que é certo é que tal homem não parece ser tido como um homem superior".

II

Disse Mêncio: "Há aqui um homem que quebra o teu telhado e desenha aberrações em tuas paredes. Seu propósito pode ser o de ganhar a vida com isso... Mas tu irás remunerá-lo?". "Não", disse Kang. Mêncio, por sua vez, concluiu: "Nesse caso não é a intenção que remuneras, mas, sim, a obra realizada".

27 de março de 2007

FALSAMENTE PROMISSOR

Um inédito... ou melhor, mais um inédito, como todos os outros.


FALSAMENTE PROMISSOR

Pensamento que se desprende
não é confissão – veio-me solenemente.
Não é dom que mereça apego
nem jogo que reclame reciprocidade.

Uma toalha compartilhada
tampouco, mesmo úmida,
manifesta devoção ou cego apreço.

Embora haja desprendimento
Um certo mérito em jogar sobre si
o pano espesso e morno que há instantes
contornou o peito caro e vergou
seus pêlos de um só lado:

Falsamente promissor motivo,
ouro de outro, a toalha-velocino.



março de 2007

19 de março de 2007

A primazia da prosa

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SENHOR JOURDAIN - E sobre a maneira como falamos? O que vem a ser isso?
PROFESSOR DE FILOSOFIA - É prosa.
SENHOR JOURDAIN - Sério? Quando eu digo: "Nicole, traga-me minhas chinelas e dê-me minha toca", isso é prosa?
PROFESSOR DE FILOSOFIA - Sim, senhor.
SENHOR JOURDAIN - Palavra de honra, eu faço prosa há mais de quarenta anos sem que disso me desse conta...
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(O Burguês Fidalgo, Molière, 1670)

8 de março de 2007

Um porre

E pensar que estas duas linhas custaram-me boas horas de trabalho. Les revenentes de Perec é um porre - que eu tomo de bom grado...:



"Qal Cabras atarantadas, safra d’Astras laranja, lacradas a napa tramada (garza rajada?), ganham a Tampa Hall , param na Tamara’s Fall, avançam atrás da...".

"Telles des chèvres en détresse, sept Mercédès-Benz vertes, les fenêtres crêpées de reps grège, descendent lentement West End Street et prennent sénestrement Temple Street vers les...".

3 de março de 2007

Conversations avec Jacques Fontanille


Les habitués de mon blog savent bien que je n'ai pas la mauvaise habitude d'apporter du travail à la maison, sauf pour les occasions spéciales...


Le numéro en ligne de la revue brésilienne ALFA - Revista de Lingüística, 50 (1), 2006, vient de paraître.

Parmi les articles de ce numéro d'ALFA, vous trouverez le texte "Conversations avec Jacques Fontanille", une interview que j'ai réalisée avec le sémioticien français l'été 2006.

Cela me ferait plaisir de recevoir vos commentaires sur ces conversations.

Je vous en souhaite une très bonne lecture!

2 de março de 2007

Um poema de P. C. Naje

Mais genial o prosador, menor sua poesia. Quando leio Naje, hesito entre o prazer e o horror. Ponho-me a pensar o quanto são belos os poemas genuína e verdadeiramente mal concebidos.


VISÕES

Cingido pelo inesperado, vi-me presa
Do destino, um mestre relapso.

Visão-cornucópia. Poeira perfilada?
Dessas visões que só vemos nenhuma vez (1).


P.C. Naje (1917-1992)
Tradução de Jean Cristtus Portela



(1) O original francês torna esse absurdo mais impressionante: "Ces visions que l'on ne voit qu'aucune fois".