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28 de fevereiro de 2009
Ele
OBJETO DE INSPIRAÇÃO
Melhor que o teor
de todas as inteligências,
melhor que uma cidade
que o tempo fez perecer,
melhor que as ruínas
das quais o século prolongou a existência
para que as lágrimas e a tristeza
aí pudessem fluir comodamente:
uma gazela macho – cujo olhar
cobriu de descrédito
todas as outras –
ternamente sonolenta
como estupefata por sua própria beleza.
O sol – pura claridade
sobre uma vastidão de dunas
isentas de qualquer impureza – quando ele se põe
atrás de um ramo forrado de folhas,
não se mostra seu igual?
Abu-Novás (750–810), em La Poésie Arabe (Phébus, 1995)
Trad. J. C. P.
16 de fevereiro de 2009
Lustrar a palavra
O hoje esguio e depilado e sempre arredio e maledicente G. – que depois se revelaria M. e que, um pouco mais adiante, iria se revelar um tolo – disse-me não gostar de falar certas palavras por considerá-las excessivamente gays: – Evito até pronunciá-las, você não percebe como elas deformam o rosto? E seu rosto justamente se iluminava de uma careta de lascívia e dor que deixava, a despeito do recato histericamente alardeado, entrever um prazer compulsivo em simplesmente pensar nas palavras proibidas.
Minha primeira reação, depois de tossir para ganhar tempo e de cruzar um pouco mais os braços para conter meu interesse crescente por esse sintomão que se apresentava diante de mim como uma dessas plantas carnívoras de desenho animado, cuja exuberância dentada de más intenções e de lábios e recônditos escandalosamente vermelhos faz pender de cada pestilo contorcido uma gosma delatora, foi: – Sério?
Seríssimo! – sibilou G. visivelmente indisposto com a minha resposta – Eu não me atreveria, por exemplo, dizer que estou CHO-CA-DO...
Na hora, pego de surpresa, convulsionei o esgar daqueles que imploram de joelhos que se mude de assunto e argumentei que não via nada demais na palavra “chocado”, que essa palavra em si não me parecia especificamente gay, blá-blá-blá.
Pobre G.! Nessa ocasião P. C. Naje nunca me pareceu tão preciso: “Um vício: cera tão eficaz quanto supérflua que torna as palavras sempre lustrosas independentemente das mãos que as lustram”.
Minha primeira reação, depois de tossir para ganhar tempo e de cruzar um pouco mais os braços para conter meu interesse crescente por esse sintomão que se apresentava diante de mim como uma dessas plantas carnívoras de desenho animado, cuja exuberância dentada de más intenções e de lábios e recônditos escandalosamente vermelhos faz pender de cada pestilo contorcido uma gosma delatora, foi: – Sério?
Seríssimo! – sibilou G. visivelmente indisposto com a minha resposta – Eu não me atreveria, por exemplo, dizer que estou CHO-CA-DO...
Na hora, pego de surpresa, convulsionei o esgar daqueles que imploram de joelhos que se mude de assunto e argumentei que não via nada demais na palavra “chocado”, que essa palavra em si não me parecia especificamente gay, blá-blá-blá.
Pobre G.! Nessa ocasião P. C. Naje nunca me pareceu tão preciso: “Um vício: cera tão eficaz quanto supérflua que torna as palavras sempre lustrosas independentemente das mãos que as lustram”.
5 de fevereiro de 2009
Le poète-chaman
Le poète brésilien Roberto Piva n’est pas un complet inconnu au monde francophone, mais j’ai tout de même voulu consacrer au poète-chaman une petite présentation.
Piva est né à São Paulo, le 25 septembre 1937. Poète polémique et longtemps marginalisé par la critique brésilienne, Piva est devenu connu à partir des années 60 en raison de son écriture inquiète et rebelle dans la ligne de la génération beat américaine.
Les poèmes que j’ai traduits ci-dessous condensent les grands thèmes de sa poésie : l’amour des garçons, la catharsis poétique, l’éloge du corps, la fascination du primitif, en un mot, la vocation chamanique de la poésie.
Dans les propres paroles de Piva : « L’écologie du langage: les poètes brésiliens doivent laisser d’être des dégonflés pour être des sorciers » (Poesia Sempre, n. 8, juin 1997, Fundação Biblioteca Nacional (RJ), p. 355).
* * *Piva est né à São Paulo, le 25 septembre 1937. Poète polémique et longtemps marginalisé par la critique brésilienne, Piva est devenu connu à partir des années 60 en raison de son écriture inquiète et rebelle dans la ligne de la génération beat américaine.
Les poèmes que j’ai traduits ci-dessous condensent les grands thèmes de sa poésie : l’amour des garçons, la catharsis poétique, l’éloge du corps, la fascination du primitif, en un mot, la vocation chamanique de la poésie.
Dans les propres paroles de Piva : « L’écologie du langage: les poètes brésiliens doivent laisser d’être des dégonflés pour être des sorciers » (Poesia Sempre, n. 8, juin 1997, Fundação Biblioteca Nacional (RJ), p. 355).
Piva en portugais : Obras Reunidas [Œuvres Réunies] (Trois tomes: 2005, 2006 et 2008), sous la direction de Alcir Pécora. Piva en français : Poèmes traduits par Michel Riaudel (Revue Europe, n. 919-920, 2005, p. 272, numéro spécial sur la littérature brésilienne).
* * *
la poésie voit plus loin
voilà l'esprit du feu
ma main
danse
sur le corps du garçon lunaire
a poesia vê melhor
eis o espírito do fogo
minha mão
dança
no corpo do garoto lunar
*
ton trou du cul hors de la loi
ta bite enragée
joie d'ange
dans les routes
du plaisir
langue des esprits indiens
champignon prophétisant
anarchie & délire
bouche dans mon pied
bouche dans mes couilles
poésie c'est folie
à l'excès du Jour
ouvrant la Nuit
(Plage de la Juréia, 1983)
teu cu fora da lei
teu pau enfurecido
alegria de anjo
nas estradas
do prazer
língua dos espíritos índios
cogumelo profetizando
anarquia & delírio
boca no meu pé
boca no meu saco
poesia é desatino
abrindo a Noite
ao excesso do Dia
(Praia da Juréia, 83)
de "Na parte de sombra de sua alma em vermelho" [Dans la partie d'ombre de son âme en rouge], Ciclones [Cyclones], São Paulo, 1997, p. 33-4.
***
VI.
garçon indien mon amour
pendant trois nuits l'incendie
a bouleversé le cœur des méduses
graines & racines
où les îles
élèvent
ses braises
VI.
garoto índio meu amor
por três noites o incêndio
bagunçou o coração das medusas
sementes & raízes
onde as ilhas
erguem
suas brasas
de "VII Cânticos xamânicos" [VII Chants chamaniques], Ciclones, São Paulo, 1997, p. 90.
***
Rimbaud
garçon-Panzer
cuisses d’or
de routard des étoiles
puer de l’alchimie
(Mairiporã, 1995)
Rimbaud
garoto-Panzer
coxas douradas
de mochileiro das estrelas
puer da alquimia
(Mairiporã, 95)
de « BR 116 » [Autoroute Nationale Brésilienne n. 116], Ciclones, São Paulo, 1997, p. 90.
Roberto Piva
Traduction de J. C. P.
30 de janeiro de 2009
Sonnets Choisis de Glauco Mattoso
Há algum tempo venho traduzindo sonetos de Glauco Mattoso para o francês. Considerando o apreço que os franceses têm pela literatura erótica e satírica, é incrível (e uma lástima!) que Glauco não seja já amplamente conhecido na França.
Sempre me recrimino por não dar mais atenção a esse projeto que, além de necessário, é muito divertido. Até hoje não traduzi mais do que meia dúzia de sonetos, dos quais apenas dois dei por terminados – não sem antes submetê-los à leitura atenta do caríssimo Alfredo Fressia, poeta e tradutor uruguaio radicado no Brasil que manja tudo de poesia e de francês, além de conhecer muito bem a obra mattosiana.
Por falta de talento e paciência, renunciei à metrificação e à preservação do esquema de rimas original. Como se sabe, o soneto decassílabo é uma arte italiana que foi cultivada pela tradição literária portuguesa e brasileira (Camões, Bocage, Jorge de Lima, Bruno Tolentino, entre outros) e dificilmente encontraria um equivalente no soneto francês "moderno", que possui tradicionalmente doze sílabas. Concentrei-me nas imagens dos sonetos e, na medida do possível, procurei também recriar um pouco da melopéia dos originais brasileiros, que de tão cantantes, de tão bem escandidos, só faltam se autodeclamarem.
Eis abaixo os dois sonetos traduzidos, work in progress que Glauco já disponibilizou on-line juntamente com seus "sonetos completos" e que talvez integrem um dia meu Sonnets Choisis de Glauco Mattoso. Esses sonetos foram editados originalmente em Geléia de Rococó (Ciência do Acidente, 1999) e datam, como sua numeração indica, do começo da experiência de Glauco como sonetista, que hoje em dia já ultrapassou os três mil sonetos.
Sempre me recrimino por não dar mais atenção a esse projeto que, além de necessário, é muito divertido. Até hoje não traduzi mais do que meia dúzia de sonetos, dos quais apenas dois dei por terminados – não sem antes submetê-los à leitura atenta do caríssimo Alfredo Fressia, poeta e tradutor uruguaio radicado no Brasil que manja tudo de poesia e de francês, além de conhecer muito bem a obra mattosiana.
Por falta de talento e paciência, renunciei à metrificação e à preservação do esquema de rimas original. Como se sabe, o soneto decassílabo é uma arte italiana que foi cultivada pela tradição literária portuguesa e brasileira (Camões, Bocage, Jorge de Lima, Bruno Tolentino, entre outros) e dificilmente encontraria um equivalente no soneto francês "moderno", que possui tradicionalmente doze sílabas. Concentrei-me nas imagens dos sonetos e, na medida do possível, procurei também recriar um pouco da melopéia dos originais brasileiros, que de tão cantantes, de tão bem escandidos, só faltam se autodeclamarem.
Eis abaixo os dois sonetos traduzidos, work in progress que Glauco já disponibilizou on-line juntamente com seus "sonetos completos" e que talvez integrem um dia meu Sonnets Choisis de Glauco Mattoso. Esses sonetos foram editados originalmente em Geléia de Rococó (Ciência do Acidente, 1999) e datam, como sua numeração indica, do começo da experiência de Glauco como sonetista, que hoje em dia já ultrapassou os três mil sonetos.
SONNET BRANLEUR [307]
Si "circle jerk" est bien "branlette en cercle",
il reste davantage démontré:
les jouets des garçons ne sont pas carrés,
c'est l'esprit des adultes qui est vierge !
En pensant aux tétons et à la chatte,
ils voient pourtant les copains tout à côté.
La libido des garçons est compliquée:
ils fourrent leur nez partout, ces camarades !
Ils n'ont pas encore de poils, mais tirer
savent-ils leurs bites en cachette,
en dévoilant les petits glands cerise-lustrés.
Se rappeler la glace et la sucette
c'est presque automatique. - L'un d'eux
flanche et suce la bande satisfaite !
SONETO PUNHETEIRO [307]
Se "circle jerk" é roda de punheta,
já fica desde logo demonstrado:
brinquedo de guri não é quadrado.
A mente dum adulto é que é careta.
Pensando nos peitinhos, na buceta,
mas vendo os coleguinhas lado a lado,
libido de menino é complicado:
bedelho mete em tudo, esse xereta!
Pentelho inda não tem, e já maneja
com toda a habilidade seu cacete,
expondo a cabecinha de cereja.
Lembrar do pirulito e do sorvete
é quase que automático. Fraqueja
um deles, e na turma faz boquete.
*
SONNET TRAVESTI [313]
L'appeler "transformiste" peu explique,
l'appeler "drag queen" ne précise point.
L'explication ne se trouve pas loin :
à la place du con on y trouve une bite.
Hormones, de la silicone, ça marque bien
la féminité de sa figure.
Peut-être soit-elle trop grosse sa pointure,
mais dans l'ensemble ça ne change rien.
Le soir le travesti risque sa peau,
il fait le trottoir, il racole à l'ombre
des voyous, des flics, des recrues sados.
Dans la froide solitude de l'aube
parfois le plaisir trouve écho:
Un cri. Un corps. Un tir. Un coup de lame.
SONETO TRAVESTI [313]
Chamar de "transformista" não explica.
Chamar de "drag queen" não fala exato.
A explicação se encontra ali no ato,
pois no lugar da cona está uma pica.
Hormônios, silicone, tudo indica
a feminilidade no seu trato.
Talvez algo maior seja o sapato,
mas no conjunto pouco modifica.
À noite pesa a barra do traveco
que faz a viração pela calçada
à cata dum bandido, um tira, um reco.
Na fria solidão da madrugada
às vezes o prazer vai ter seu eco:
Um grito. Um corpo. Um tiro. Uma facada.
Glauco Mattoso
Tradução de Jean Cristtus Portela
28 de janeiro de 2009
Lexicógrafo de ocasião
Após dar umas boas risadas lendo os verbetes do Dicionário inFormal da Língua Portuguesa ("O dicionário onde o português é definido por você!!!", diz o slogan), decidi arriscar uma modesta contribuição: submeti à análise do Dicionário inFormal o verbete "pintoso", que foi aprovado algumas poucas horas depois. Infelizmente, o dicionário não especifica os critérios de aprovação dos verbetes submetidos e nem diz se são, de fato, analisados por um especialista ou simplesmente "conferido" por um diletante ou geek qualquer.
Já aviso: colaborar nesse dicionário vicia...
Já aviso: colaborar nesse dicionário vicia...
1 de julho de 2008
Bela réplica
De uma carta de R. B. ao jovem H. G., que lhe acusara de assédio, sobretudo de ter supostamente pretendido trocar um prefácio por uma noite de amor:
“Eu não queria de forma alguma “minha língua em sua pele”, mas somente - ou de outro modo - "meus lábios em sua mão”. A nuança é literária (já que diz respeito à linguagem)? Mas eu vivo mesmo segundo a literatura, tento viver segundo as nuanças que me ensina a literatura.”
(Roland Barthes, em Fragments pour H., 1977, RB Œuvres Complètes, p. V-1006)
“Eu não queria de forma alguma “minha língua em sua pele”, mas somente - ou de outro modo - "meus lábios em sua mão”. A nuança é literária (já que diz respeito à linguagem)? Mas eu vivo mesmo segundo a literatura, tento viver segundo as nuanças que me ensina a literatura.”
(Roland Barthes, em Fragments pour H., 1977, RB Œuvres Complètes, p. V-1006)
24 de novembro de 2007
Púchkin por Pereleshin
Não me perguntem de onde Stephen Coote, organizador de The Pinguin Book of Homosexual Verse (Penguin, 1983), extraiu o poema abaixo. Não é preciso ser exatamente um grande conhecedor de Púchkin para saber que este é de fato um poema menor. Duvido mesmo que este poema seja dele, embora confie na tradução em língua inglesa de Valerii Pereleshin, poeta russo que morou durante anos no Brasil, onde chegou no começo da década de 50. Eis uma tradução livre e leve (apressada) do poema de Púchkin traduzido por Pereleshin:
Menino, terno e gentil menino,
Não te envergonhes, para sempre serás meu:
O mesmo fogo rebelde arde em nós
Vivemos uma só vida
Não temo o escárnio:
Para nós, dois se fez um,
Somos exatamente uma noz dupla
Sob uma casca única.
Sweet boy, gentle boy
Don't be ashamed, you are mine forever:
The same rebellious fire is in both of us,
We are living one life
I am not afraid of mockery:
Between us, the tow have become one,
We are precisely like a double nut
Under a single shell.
Aleksandr Púchkin (1799-1837)
Tradução em língua inglesa de Valerii Pereleshin (1913-1992)
Tradução brasileira de J. C. P
25 de maio de 2007
O jovem e seu preceptor
Este post é um "clin d'œil" ao poeta árabe de origem persa Abu-Nuwas (nascido em Ahwaz, morto em 810), o "homem de cabelos 'pendentes'", que fez uma ponta nas Mil e uma noites.
O conto a seguir, que tem ao menos mil anos, é uma adaptação de uma das histórias compiladas e traduzidas do árabe para o inglês por Sir Richard Burton.
O conto a seguir, que tem ao menos mil anos, é uma adaptação de uma das histórias compiladas e traduzidas do árabe para o inglês por Sir Richard Burton.
O JOVEM E SEU PRECEPTOR
Conta a lenda que o vizir Badr al-Din, governante do Iêmen, tinha um jovem irmão cuja beleza era tão espantosa que, quando ele passava, homens e mulheres, querendo banhar seus olhos por um instante no charme que dele emanava, viravam-se e detinham-se para admirá-lo. O vizir, que temia que algo de inoportuno pudesse acontecer a tão adorável ser, mantinha-o longe dos olhares dos homens, impedindo-o de ter amigos da mesma idade. Não estando disposto a enviá-lo para a Escola Corânica como os demais meninos, onde ele não poderia ser suficientemente vigiado, pediu a um venerável e piedoso ancião, conhecido por sua conduta absolutamente casta, que assumisse o papel de seu preceptor, instalando-o em um quarto vizinho ao do pupilo.
Todos os dias, o respeitável ancião passava horas e mais horas com seu estudante. Não tardou para que a beleza e a sedução do jovem surtissem seu efeito costumeiro. Após algumas semanas, o velho homem foi acometido de uma paixão tão violenta pelo menino, que ele podia ouvir todos os pássaros de sua juventude cantando novamente em seu íntimo, e esse canto nele despertou algo que há muito tempo estava adormecido. Não sabendo como dominar seus sentimentos, o velho homem declarou-se ao jovem, dizendo que não poderia viver muito mais tempo longe dele.
“Ai de mim”, disse o jovem, profundamente tocado pelo sentimento de seu professor, “eu nada posso fazer, cada segundo de meu tempo é vigiado por meu irmão”. O velho homem suspirou e disse, “Como eu almejo passar uma noite sozinho ao teu lado!”. “Falas muito bem”, retorquiu o outro, “mas se meus dias são tão bem guardados, como imaginas serem minhas noites?”. “Eu bem sei”, disse o ancião, “mas minha varanda é vizinha a tua, enquanto teu irmão dorme, seria fácil passares pela janela de teu quarto para a varanda; então eu te ajudaria a escalar o muro para que entrasses. Lá estando, ninguém poderia nos ver”.
Tal idéia agradou ao jovem. Nessa mesma noite, ele fingiu estar dormindo, e, tão logo o vizir adormeceu, saltou a janela de seu quarto e ganhou a varanda, onde o velho homem esperava-o. O sábio pegou-o pela mão e, passando-o por cima do muro, conseguiu trazê-lo para dentro de sua própria varanda, onde bandejas de frutas e taças de vinhos transbordantes os aguardavam. Eles se sentaram em um tapete branco e, banhados pelo luar, começaram a beber e a cantar sob a inspiração da noite clara e da suave luz das estrelas que iluminavam o seu êxtase. Enquanto as horas assim maravilhosamente passavam, o vizir Badr al-Din despertou repentinamente e, como que tomado de um pressentimento, teve a idéia de ir ao quarto de seu jovem irmão, onde, atônito, não conseguiu encontrá-lo. Depois de procurar o jovem por todo o palácio, ele decidiu sair para a varanda e, aproximando-se do muro, viu seu irmão e o velho homem sentados lado a lado, erguendo ambos suas taças de vinho em um brinde extasiado.
Tamanha foi a sorte que tiveram: o velho sábio, percebendo a presença do vizir, agiu genialmente rápido. Ele interrompeu a canção que cantava e improvisou tão habilmente uma outra estrofe que a seu ritmo nada faltou. Tendo cantado:
Oh amado, tua boca molhou
Esta taça que agora é minha,
O ruge de tua face tornou
A cor do vinho esmaecida!
Na seqüência, improvisou:
Teu irmão nobre e respeitável,
Na seqüência, improvisou:
Teu irmão nobre e respeitável,
Reprovar-me-ia duramente
Se eu chamasse a ti “adorável”,
Ser belo, sereno e excelente!
Ao ouvir tão delicada alusão, o vizir Badr al-Din, sendo homem discreto e galante, e vendo igualmente que nada de impróprio acontecia entre os dois, retirou-se, dizendo a si mesmo: “Assim como Alá vive, que eu não perturbe tal confraternização”. E a dupla pôde continuar a festejar em perfeita harmonia.
Ao ouvir tão delicada alusão, o vizir Badr al-Din, sendo homem discreto e galante, e vendo igualmente que nada de impróprio acontecia entre os dois, retirou-se, dizendo a si mesmo: “Assim como Alá vive, que eu não perturbe tal confraternização”. E a dupla pôde continuar a festejar em perfeita harmonia.
Tradução de J. C. P.
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