Ainda a série "Ensaios para montar"...
A DESCRIÇÃO DE UM RAPAZ
Se, por encomenda, me fosse o caso de descrever
um rapaz, pergunto-me por onde começaria
um rapaz gaiato e atemporal; no material, poroso mas compacto
e cromado; na estrutura, articulado, portátil, porém estável
seria o rapaz que teria minha predileção analítica
(Vã espera: na encomenda a fortuna não é compulsória
Sequer obrigatória). Algo que é preciso aceitar
quando se exerce a especialidade, essa arte de registrar:
arte de descrever rapazes, de encontrar a frase
que desentranhará o fundo da forma, a substância.
Um desafio seria a variedade de rapaz
já que ninguém por princípio ignora
que a espécie dos rapazes é grande em número
nos cinco continentes e extramuros.
E como seria lastimável prescindir
da observação direta e indireta
da coleta explícita e sorrateira e
do contato não assistido e de
explorações ulteriores com e sem sonda!
Sempre o dilema: por onde começar?
Por sua ossatura ou por sua ergonomia?
Por seu revestimento ou por sua aderência?
Começar logo pelo estofo, medindo-lhe a luminescência,
talvez fosse o mais acertado, ainda que mais comercial
(Idéia que desagrada o outsider, o misantropo, o animal,
O debochado, o desregrado, o indiferente que eu quis ser)
Mas ao menos garantiria um prólogo difícil de esquecer.
J. C. P.
janeiro de 2009
3 comentários:
Muito bom!
Ahm-ham! Terei ouvido ecos de maledicência de Miss Moore? O verso "(Idéia que desagrada o outsider, o misantropo, o animal," não deixa dúvidas!
Um abraço, prezado misantropo. E bom carnaval!
E.
Querido E., somos todos devotos de Miss Moore, nossa padroeira!
E como vai vossa misantropia mineira?
Abraços, J.
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