10 de fevereiro de 2009

Ensaios para montar [2]

Ainda a série "Ensaios para montar"...



A DESCRIÇÃO DE UM RAPAZ



Se, por encomenda, me fosse o caso de descrever
um rapaz, pergunto-me por onde começaria

um rapaz gaiato e atemporal; no material, poroso mas compacto
e cromado; na estrutura, articulado, portátil, porém estável

seria o rapaz que teria minha predileção analítica
(Vã espera: na encomenda a fortuna não é compulsória

Sequer obrigatória). Algo que é preciso aceitar
quando se exerce a especialidade, essa arte de registrar:

arte de descrever rapazes, de encontrar a frase
que desentranhará o fundo da forma, a substância.

Um desafio seria a variedade de rapaz
já que ninguém por princípio ignora

que a espécie dos rapazes é grande em número
nos cinco continentes e extramuros.

E como seria lastimável prescindir
da observação direta e indireta
da coleta explícita e sorrateira e
do contato não assistido e de
explorações ulteriores com e sem sonda!

Sempre o dilema: por onde começar?
Por sua ossatura ou por sua ergonomia?

Por seu revestimento ou por sua aderência?
Começar logo pelo estofo, medindo-lhe a luminescência,

talvez fosse o mais acertado, ainda que mais comercial
(Idéia que desagrada o outsider, o misantropo, o animal,

O debochado, o desregrado, o indiferente que eu quis ser)
Mas ao menos garantiria um prólogo difícil de esquecer.



J. C. P.
janeiro de 2009

3 comentários:

Anônimo disse...

Muito bom!

Anônimo disse...

Ahm-ham! Terei ouvido ecos de maledicência de Miss Moore? O verso "(Idéia que desagrada o outsider, o misantropo, o animal," não deixa dúvidas!

Um abraço, prezado misantropo. E bom carnaval!

E.

Jean Cristtus Portela disse...

Querido E., somos todos devotos de Miss Moore, nossa padroeira!
E como vai vossa misantropia mineira?
Abraços, J.