7 de novembro de 2007

Confúcio passado

Em sua juventude – há que se ser jovem para procurar uma encrenca dessas – Confúcio dirigiu-se ao venerável Lao Tsé com o objetivo de conseguir palestrar longamente com o recluso e enigmático mestre do Tao Té Ching (O Livro do Perfeito Caminho). Isso se deu entre os anos 503 e 522 a.C., não se sabe ao certo.

O jovem Confúcio esteve com Lao Tsé durante uma tarde inteira, ouvindo-o com respeito, mas sem deixar de manifestar sua surpresa diante da postura inflexível de Lao Tsé.

O Velho, ao contrário de Confúcio, rejeitava a idéia de uma “evolução” certa do espírito. Na verdade, Lao Tsé rejeitava a idéia de uma doutrina, de uma escola de excelência que poderia “salvar” definitivamente a humanidade. Não que ele não acreditasse no Caminho ou que desprezasse o Céu, mas o fato é que o mestre do taoísmo era pessimista em relação à eficácia da comunicação e, sobretudo, da aprendizagem.

*

A caminho de Lu, o discípulo que acompanhava Confúcio, diante de seu silêncio absoluto que já durava três dias inteiros, perguntou-lhe o que se passava afinal.

O Grande Mestre de Cerimônias, rompeu o “silêncio de jade”, respondendo ao discípulo, em um discurso arrebatado:

“Acabo de ter com um homem cujos pensamentos, qual pássaros, ganham as alturas e a imensidão do azul. Quanto a mim, gosto de lançar meus pensamentos um a um, como dardos velozes e pontiagudos, que alcançam o alvo com destreza. Primo pela fidelidade de meus pensamentos, que, retilíneos e desembaraçados, alcançam sua presa.
Acabo de ter com um homem cujas idéias misteriosas e obscuras pairam sob a superfície de um abismo inacessível. Deleito-me com o fato de que minhas idéias possam ser fisgadas na ponta de um caniço e prazerosamente consumidas. Dos pássaros, sabemos que voam, é seu destino. Os peixes, sabemos todos, podem nadar. As bestas do campo, trotar. No entanto, sei muito bem que, convenientemente armado, posso capturar o que trota com uma armadilha; o que nada, com uma rede; o que voa, com uma flecha.
Quanto aos dragões, ignoro se voam solenes tempestade afora ou se cavalgam as nuvens do céu imenso. Contemplei Lao Tsé como alguém que vislumbra um dragão. Minhas idéias turvaram-se e fui privado de fôlego. Meu espírito, desgarrado, não soube mais onde achar repouso.”

(Resposta transcriada da admirável tradução brasileira de Múcio Porphyrio Ferreira)

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