Se pudesse me ver como me sinto,
além de toda resistência modal,
não atribuiria à egotrip o que bradei
por umas duas vezes, uma delas por escrito,
sobre “ser meu”.
“Ser meu” não é um estado honorífico da matéria,
nem forja em metal nem traço de arroubo mítico.
“Ser meu” é um caule de capim coroado de penugens róseas
e colhido num gesto negligente entre sol e sombra – mais sol.
“Ser meu” é óbvio correlato de “ser seu”, sem sono, sem obrigações,
sem data de nascimento, prazo de validade ou carência.
“Ser meu” é o seu vulto repousado sob pouca luz
como modelo a ser capturado,
à minha espera, naquele instante, onde eu o procuro.
“Ser meu” é o olhar pacificado, sem sanção além do afeto duramente concedido,
e do franzir dos olhos e do morder dos lábios no momento
em que você e todos nós somos solitários.
Jean Cristtus Portela
Junho de 2017.