29 de maio de 2013
Da série "Poemas do gabinete" [1]
FAUNO DE ANFITEATRO
Física, química, lógica, botânica.
É incerta sua especialidade,
insinuada pelo queixo tímido
e pelo lábio mordido
sob o nariz vago.
Bochechas compactas
cobertas da pele lisa e pálida
que sobe também pelas longas pernas
e se espalha pelo quadril que quase
não segura sua melhor calça.
Ombros de remador que jamais remaram,
as mãos descansam sobre o colo
e revolvem o bloco em que lança
ou finge lançar suas sonolentas impressões.
Falsamente indefeso ignora
o rébus que se desenha em sua nuca,
no contorno do seu talhe crescido
de pajem responsável pelos banhos.
Abandona-se na poltrona entediado,
cercado pelos pares mais caros,
em insuspeito sacrifício
a um fauno de anfiteatro.
São Paulo, novembro de 2009.
J. C. P.
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