14 de junho de 2013

Um avulso de Tal a fuga (2003-2006)



LINHAS IMPIEDOSAS REGERAM

Linhas impiedosas regeram sua
Penúltima mensagem: "Deixe-me, homem de
Afeição recessiva, altruísta oportunista
Adeus, amigo, nada restou daquele afeto límpido".

O que atiça minha máquina de juras
E meu detector de degredos.

Nem deliberada ausência ou
Presença filtrada borrará seu desenho
Nem biombos espessos reterão seu corpo -
Nem a linha mais cruel causa-me incômodo.

Ah, meu predador estrutural,
Fantasma predestinado, sempre recorde:
Nunca ninguém é tanto algo.

J. C. P

1 de junho de 2013

Da série "Poemas do gabinete" [2]



FÔLEGO PARA O MOVIMENTO

Antes do início da banca de ontem,
tive que buscar meus óculos no carro.
Cena trivial de que a ruína
Sempre foi a ausência
do natural, do sensual,
fôlego para o movimento.

Fôlego para o movimento –
medida de usura
dos corpos. É o que transmuda
a caixa de ossos na arrogância
dos gestos mais eróticos: tônus, tórax,
suor, transporte, torpor.


Araraquara, maio de 2013.

J. C. P.

29 de maio de 2013

Da série "Poemas do gabinete" [1]




FAUNO DE ANFITEATRO

Física, química, lógica, botânica.
É incerta sua especialidade,
insinuada pelo queixo tímido
e pelo lábio mordido
sob o nariz vago.
Bochechas compactas
cobertas da pele lisa e pálida
que sobe também pelas longas pernas
e se espalha pelo quadril que quase
não segura sua melhor calça.

Ombros de remador que jamais remaram,
as mãos descansam sobre o colo
e revolvem o bloco em que lança
ou finge lançar suas sonolentas impressões.

Falsamente indefeso ignora
o rébus que se desenha em sua nuca,
no contorno do seu talhe crescido
de pajem responsável pelos banhos.

Abandona-se na poltrona entediado,
cercado pelos pares mais caros,
em insuspeito sacrifício
a um fauno de anfiteatro.


São Paulo, novembro de 2009.

J. C. P.