18 de março de 2009

Os analectos de Jean-Lúcio [1]

"O aforismo narrativo prevaleceu do oriente ao ocidente:
os koan zen, os analectos de Confúcio, Montaigne,
La Rochefoucauld, Pascal, Roland Barthes...".
P.-C. Naje, em Aforismos ensaísticos





Disse o Mestre: “A completa lucidez, essa janela no nevoeiro, não me alcançará. Vou antecipá-la, vou sondá-la sempre do futuro, tendo o cuidado de falar a seu respeito sempre no passado”.

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Logo após um fausto banquete, confiou Jean-Lúcio a seu círculo mais íntimo: “Não contente em protagonizar um fato irritantemente constrangedor, B. faz questão de rememorá-lo. E de pedir desculpas – que não convencem nem a ele mesmo”.

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É claro que alguém profundamente vil está por trás daquele recurso do MSN que permite aos usuários saberem se seu parceiro de batepapo está escrevendo ou não. Discrição era tudo o que o Mestre exigia.

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B. ama desavergonhadamente e usa sábios clichês quando fala sobre monogamia. Já T. diz que ama pra valer, mas que quando vira puta, vira puta, e que, em puta, ele não se reserva limites. “Incerto é o meio do caminho do meio”, limitou-se a observar Jean-Lúcio.

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O desaparecido J. – que encenou o próprio sumiço e acabou sumindo – queria não querendo, partia tão logo chegava e sorria assim que falava.

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Escreveu o Mestre na parede de seu casebre: “Um silêncio de MSN dura uma miríade de segundos”.

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Discípulos próximos afirmam que Jean-Lúcio não raramente advertia: “Amar é usar sempre a mesma túnica rota”.

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Teorias obscuras e sacerdotes crédulos em demasia: eis toda a ruína da tradição.

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Um comentário:

Anônimo disse...

Jean "Salvatoris" da Portela, carnavelesco romântico zen ou zen romântico carnavalesco,

Meu egocentrismo cênico, leva-me a crer que ainda existo. Talvez seja porque, como você pode notar por minhas visitas "frequentes", você ainda existe... e me alimenta (ou me petisca?) com sua alma.

Porque ainda desejo que você exista, se na verdade te quero longe? Sempre foi assim(não é?), vício.

Te quero não querendo. E sempre vou partir assim que chegar... Mas no fim, as minhas lembrañças são e serão só sorrisos.

Saudades... platônicas saudades,

J., o outro J. Desaparecido J? Um Ator. Aprendiz. Fracassado. Cheio de sucessos vãos.