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RETRATO DE UMA SEREIA QUANDO JOVEM
Sereia-medusa, menino-austro da deserta enseada,
Equilibrista do coral frágil da derrocada.
O farol queima seus olhos
A cada varredura, uma cicatriz,
Sua voz é ouvida ainda mais pura.
Nos destroços, na água revolta e escura,
No seu trimbre grave e arguto,
As promessas ganham o fundo.
Na ponta da cauda, um astrolábio voluntarioso
Que reordena a carta celeste
Ao sabor do novo, do gentil desconhecido
Quase virado pedra — e já sem fôlego,
Enquanto seu canto silente
Emudece e enrijece o corpo —
Um aventureiro que, só podendo mexer os olhos,
Sussurra e repousa o olhar em sua boca pequena
E nas escamas que fazem brilhar seu contorno.
J. C. P.
Março de 2009
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