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O JARRO
Este jarro despreza o olhar
Refratado em sua base circular
Mal traçada de um côncavo granulado.
Um jarro em que poucos derramaram a curva límpida
Da água, cujo esmalte gasto como um véu roto
No contorno do bocal – o gargalo levemente disforme –
Denuncia o triunfo do barro.
Poucas nuanças de tabaco e terracota costeiam
O longo do jarro e se coalham no seu bojo.
A saturação da cor dá a medida do seu peso,
Como a imperfeição da forma lhe confere leveza.
Um menino o deixa cair por falta de modos.
A senhora refresca o rosto com a água dele vertida
Enquanto a alça se rompe no ponto de equilíbrio.
Um monge fere ainda mais sua borda
Fazendo trovejar seu cajado.
Ao observador não resta mais do que a especulação
Que junta seus cacos, antes de um esgar premonitório
Que reconstitui o jarro aberto, couro lustroso esticado
Como uma tapeçaria em que quase se pode ler –
Lascas finas de barro e chão, algumas mais espessas,
E arredondadas e pontiagudas – uma inscrição esgarçada
Que se ramifica em fiapos.
Este jarro despreza o olhar
E, mais que fazer jorrar a água,
Ele parece ter sido esculpido com água jorrada
De modo que neste jarro qualquer derramamento
Se faz segundo a economia estrita do desperdício.
J. C. P.
julho de 2009
4 comentários:
Obrigado! Seja sempre bem-vindo! Abraços!!
Jean! Nas andanças por blogs alheios, encontrei o seu. Vou digerir calmamente os textos, com certeza.
Até breve!
A excelente fanopéia do Jean!
=)
Jean, mano... teu blog parou!
Desde julho? Volte aí!
Grande abraço!
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