27 de janeiro de 2009

Um ponto, não mais

Eu já suspeitava de algo nesse sentido... É o que os puristas chamam de inapelável fragilidade do homem.


UM PONTO, NÃO MAIS

O homem – seu ser essencial – é apenas um ponto. É esse único ponto que a morte engole. Ele deve tomar cuidado para não ser cercado.

Um dia, num sonho, fui rodeado por quatro cães e por um menininho maldoso, que os comandava.

A dor, a dificuldade incrível que eu tive em lhes atingir, disso sempre me lembrarei. Quanto esforço! Seguramente eu tocava seres, mas quem? De todo modo, meus adversários foram desfeitos a ponto de desaparecerem. Eu não me deixei enganar por sua aparência, acredite. Eles eram também apenas pontos, cinco pontos, mas muito fortes.

Mais uma coisa, é assim que começa a epilepsia. Os pontos começam então a andar sobre você e o eliminam. Eles sopram e você é invadido. Em quanto tempo se pode retardar uma primeira crise, é o que me pergunto.

Henri Michaux
Un point, c’est tout, de La nuit remue (Gallimard, 1967, p. 30)
Tradução de J. C. P.

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