29 de janeiro de 2009

Não coisas, mas idéias que são coisas!

Quando Williams preconizou em poesia o método “Componha! (Não idéias, mas coisas)” – método consagrado pelos orientais e retomado antes de Williams por Pound e seu círculo – as coisas já dominavam com folga a paisagem da poesia dita moderna.

Com raras exceções, poucos foram os que tomaram real partido das idéias em poesia (Lautréamont, Ponge, Michaux?). Alguns dos que o fizeram escolheram o caminho fácil do engajamento sem ascese alguma.

Raro é aquele que se deleita ao perceber de soslaio o rendado canyon conceitual que se estende do penhasco das narrativas ao vale fundo das digressões, no qual a água ligeira se coalha de pedras a cada volteio e escorre a profusão de peixes que se projetam no laminado da manhã.

Um comentário:

José Carlos Brandão disse...

Jean, interessante o seu trabalho com os sonetos, mas a este pequeno texto, pequeno ensaio sob a forma de uma ligeira digressão... Isso me toca de perto. Me toca demais. Os contrários se atraem? Nao sou contra, não. Mas há contradições no caminho. Quero trabalhar com coisas, mas estamos contaminados pelas idéias. Isto mesmo é idéia. Mas, falando de poesia, só se pode criar imagens com coisas. Só se pode fazer poesia, portanto, com coisas. O problemas, repeito, é que estamos contaminados pelas idéias. Aliás, não "estamos", eu ou você, mas a linguagem. Usamos palavras, que são objetos carregados de idéias. Daí a palpável impossibilidade de se fazer poesia.
Muito bom, Jean. Um grande abraço.