Gide blefando em entrevista a Jean Amrouche: "Tenho horror ao escândalo, ao escândalo pelo escândalo... Sempre que pude, procurei evitá-lo, o que só não fiz quando foi absolutamente inevitável".
Sei, sei...
Pensei nisso ao reler esta canção de circunstância, que se perde na minha galeria trash-platônica e que renderia, sem dúvida, uma boa posição num Top 10 de imp(r)udências.
PROGNATA
Ele se sabe mestre da desgraça e
Das frágeis formas de ocultá-la.
Difícil precisar como a presunção
Pueril dependura-se
Em seu queixo projetado.
Do crânio, a proeminente
Gaveta metálica destaca-se
Ofensiva em um bico suplicante.
Reclama para si uma agressividade
Inata de destino moído a patadas.
Experimento a improvável visão
De sua regata atirada em minha cara
(Quando ela jamais saiu de seu torso).
Prognata, pureza suspeita
Sua testa refrata. O véu amigável
Oculta as tatoos, minha cobiça escarificada.
O fauno que imagino ser
Tem entre os dentes sua cabeça que pende
Por uma orelha furada.
Ele sabe, afinal, que sou letal
Feito um coala, cínica pelúcia de Austrália:
Só, eu desfio, um colo é meu exílio.
fevereiro de 2005
J. C. P.
3 comentários:
oi, jean, como tá?
tô aqui no meio de uma reforma do apê, ouvindo a música das marteladas e resolvi me distrair passando pelos blogs mais legais da www :^)
vc soube da minha plaquete nova?
ói: http://arqueria.wordpress.com/
vc tá no facebook e no twitter?
me mande novidades.
abbracci
Quando um outro J desaparece,um novo alfabeto sempre chega... e o despeito, ah, o despeito é só tinta de uma antiga matéria poética.
Meu caro, que poema genial. Suas metáforas estão cada vez mais afiadas. Essa última estrofe é um achado.
"Ele sabe, afinal, que sou letal
Feito um coala, cínica pelúcia de Austrália:
Só, eu desfio, um colo é meu exílio."
Invejei.
Abraço!
E.
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